Ninguém gosta de fechar uma loja, uma livraria então aperta ainda mais o coração. Em 2008 tive que fazer o fechamento de uma, mas felizmente, para uma reforma e reabertura posterior. Saiba como foi organizado esse trabalho de fechar uma loja.
Afinal, por que fechar?
O ano de 2008 foi o ano de expansão da marca Saraiva. Um ano após a aquisição da livraria Siciliano, a grande rede familiar estava pronta para fazer finalmente a fusão das duas empresas e inserir sua marca nas lojas compradas.
A decisão de fechar não foi somente para mudar o nome, algumas lojas realmente precisavam de reformas (uma delas em Brasília estava com ar condicionado estragado, uma com sério problema de mofo dentro da tubulação, fora prateleiras velhas e quebradas). Reforma em algumas lojas eram realmente necessárias, em outras, era preciso reorganizar o espaço, visto que a siciliano não vendia todos os produtos que a Saraiva possui à venda.
Seja por espaço ou estrutura ruim, elas precisavam ser renovadas, e o plano começou a ser feito com a contratação de mais funcionários e treinamento de toda a equipe, seja ela nova ou a antiga. Anterior a isso foi iniciado o plano de demissão voluntária, seguido da avaliação dos que que desejavam permanecer. Feito isso a equipe de RH da Saraiva iniciou o processo seletivo para, em seguida acontecer o fechamento.
Preparação para fechar
Em um plano de expansão como esse, tudo é bem organizado. A primeira equipe a entrar foi um grupo de compras de São Paulo, que começou a inventariar todo o acervo de cada loja. Não foi um trabalho meticuloso, mas trabalhoso: eles ficaram dias em cada loja passando por cada prateleira e separando o que seria mantido no acervo da loja e o que seria enviado para o depósito da empresa e redistribuido para outras lojas.
Ao final do dia podíamos ver pilhas e pilhas de livros no chão da loja (iriam para o depósito) e alguns na prateleira (os que permaneceriam). Na loja, uma equipe de outra loja fazia o trabalho durante o dia para, ao fechamento da loja, começar o trabalho final.
No caso de uma loja de shopping, era o caso das lojas siciliano em Brasília, as lojas foram fechadas as 22:00. Era aí que a equipe entrava em cena e iniciamos o trabalho de embalar tudo. Se você se pergunta do horário, é isso mesmo, trabalhamos durante a madrugada, para que o serviço estivesse pronto na manhã seguinte. Relatei esse trabalho no texto que você pode ler aqui.
Caixas, mais caixas e pedreiros
Para otimizar o tempo todos foram divididos em duplas ou trios, que eram responsáveis por uma determinada seção. Para facilitar tudo na hora de recolocar os livros após as reforma, pediram que guardassemos os livros nas caixa seguindo a ordem como eram organizados nas seções: tema e ordem alfabetica. Não é algo muito trabalhoso, mas acaba sendo um pouco mais lento para cada equipe organizar tudo.
No meu caso fiquei responsável por literatura. Meus parceiros e eu conseguimos ser bem rápidos, mesmo parando as vezes para dançar (não somos de ferro e precisávamos nos divertir) e apesar de ser uma das maiores da loja, conseguimos ser os pimeiros a terminar (somos demais, não posso negar, rs).
Tivemos cerca de duas paradas para lanches onde a direção da Saraiva comprou pizza e outras comidas alem do que trouxemos, essas paradas aproveitavamos para descontrair e nos divertir um pouco mais.
Mas não foi só diversão. Caixas com livros são pesadas, e se forem livros de medicina (que possuem folhas mais grossas) ou de direito às vezes eram quase impossíveis de carregar. Enquanto estavamos lá dentro em meio a caixas, uma equipe estava do lado de fora colocando o tapume e adesivando a parte externa para que a obra não poluísse a visão dos visitantes do shopping.
Terminamos o trabalho as 08 da manhã. Não vou negar o qaunto estava cansada e suja de poeira, pois à medida que liberavamos as seções os pedreiros começaram já as obras para tirar as prateleiras. A reforma precisava ser rápida, pois teriam apenas 30 dias para refazer tudo.
Infelizmente, n’ao encontrei fotos da antiga livraria para mostrar o antes e depois para vocês, mas a mudança foi radical, apliando em um piso a mais
Era assim que vocês imaginavam o trabalho em uma livraria?
Republicou isso em Memórias ao Vento.
Eu imagino que, no Brasil, manter uma livraria deve ser bem difícil. Até porque não se vende tanto livro quanto roupas, ou até mesmo itens e produtos de menos importância. E há uma grande concorrência também. De certa forma, donos de livrarias são corajosos e merecem todo o respeito!
Eu fechei minha livraria no final do ano passado. Tive que fazer tudo sozinho: empilhar, encaixotar e carregar. Mesmo sendo uma livraria pequena foi muito trabalho. Interessante saber um pouco da organização das grandes redes de livraria.