Hoje em dia são inúmeros os sites e blogues sobre livros por aí. Enquanto a maioria fala de seu amor por livros que estão nas listas de mais vendidos ou os autores atuais mais badalados, sinto que sigo o sentido contrário a essa corrente.
Talvez seja porque comecei a ler muito cedo, mas de uma década e meia tenho mais interesse por clássicos que qualquer outro livro. Por muitos anos, devido à grande demanda de editoras e do trabalho como livreira, acabei dedicando mais tempo aos livros de autores mais recentes. Mas sempre separava um tempinho para ler pelo menos um ou dois livros que desejava muito ler.
Foi assim, entre diversas leituras contempôraneas que li Os Irmãos Karamázovi, Anna Karienina, Os Miseráveis e tantas outras grandes obras (tanto de tamanho, páginas e riqueza). Hoje percebo que desejar ler essas obras não foi o acaso, mas sim a evolução do hábito.
Infância e a biblioteca
Nasci em uma cidade pequena do interior de Minas (Bom Despacho, para os curiosos). Tão pequena que a única livraria da cidade na década de 90 fechou e foram quase 10 anos sem uma na cidade para se comprar livro. Dela, me lembro que era perto da minha escola (Cel Praxerdes) e que ali comprei apenas um livro (O menino maluquinho, do Ziraldo). Por essa razão minha paixão pelos livros passou longe dos mais vendidos.
Uma das lembranças mais antigas que possuo tem a ver com esse momento: estavam eu, minha mãe e minha irmã na biblioteca da cidade. Minha mãe me levou até lá para fazer meu cadastro lá. Lembro de estar bem animada e assinar com cuidado meu nome na ficha, e da bibliotecatária me levar até o local onde ficavam os livros para minha idade e mostrar alguns pra mim.
Esse dia ficou tão marcado que até hoje me lembro. Me lembro de chegar em casa e ficar olhando o livro e tentando ler com cuidado. Dali em dia, por não sei quanto tempo, eu passaria as manhãs ao lado da minha mãe no quintal. Enquanto ela passava a roupa e eu lia para ela o livro. Se lia alguma palavra errada, ela me corrigia. Ficava ali até ler o livro todo sem errar. No início demorava, mas com o tempo tudo foi ficando cada dia mais fácil.
E assim, todos os dias, saía da aula e seguia para a biblioteca, que para minha alegria ficava na rua ao lado da minha escola (a verdade, é que todas as vezes que a biblioteca mudou de local, sempre foi para perto de onde estudava, para minha sorte). Todos os dias devolvia o livro lido na manhã e já pegava outro para ler no dia seguinte.
Na terceira série já estava lendo a tão famosa coleção vaga-lume (hoje já clássica e com menos títulos que possuía anteriormente. Quando cheguei a sexta série já havia lido praticamente todos os livros dessa coleção, assim como a veredas e transas e tramas. E foi aí que tive minha primeira parada de leitura por cerca de 1 ano e meio.
Clássicos na infância
Apesar de ler tudo, eu li alguns clássicos infantis nessa época. De todos, o que mais me marcou foi O Sítio do Pica-Pau Amarelo, do Monteiro Lobato. Lembro de ter encontrado uma edição de luxo de Reinações de Narizinho, com capa dura. Era lindo de abrir aquele livro, mesmo com desenhos em preto e branco (que o deixavam mais no estilo vintage e com ar de mais luxo). Era uma edição antiga e adorei ler esse livro.
Outras obras clássicas como Éramos Seis também me encantaram. Eram obras mais longas e um pouco mais demoradas para ler. Isso me deixava feliz. Nessa época, lia um livro com média de 300 páginas por dia. Nessa época tinha muitas atividades, já que precisava ajudar a cuidar da casa, ir as aulas e ainda atividades da igreja como peças de teatro e etc.
Foi por essa razão quhe comecei buscar na adolescencia algo que me deixasse focada na leitura por mais tempo. Terminar em um dia se tornou sem graça. Sentia a vontade de estar mais tempo com o mesmo livro, de ter aquela curiosidade de como vai continuar por mais tempo. Mas ainda levou um tempo para entender o que eu gostava, afinal, estava aprendendo a gostar de ler, mas ainda não possuía um gosto literário.
Que fofura
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Uma vida interessante