O primeiro personagem publicado por Maurício de Sousa também é o símbolo da editora. Ironicamente foi a primeira graphic MSP que li. Bidu é o cachorrinho que toda criança queria ter como amigo. Talvez seja por isso que o personagem mais inventivo e criativo da Turma da Mônica (depois do Cebolinha) tenha sido escolhido para ser o parceiro deste dócil e sagaz animalzinho. Franjinha é hábil com projetos e maquinações, frutos de uma criatividade à disposição da infância. Falar de Bidu é ressaltar a habilidade de comunicação entre seres cientes que, na teoria, todos nós temos em potencial, seja no campo da escrita, fala ou não-verbal. Mas, cachorros não falam, apenas vivem. E sobreviver é o mote desta história criada por Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho e lançada pelo selo em 2014.
Um desafio e tanto contar a história de um cão sem o recurso das palavras. Os quadros, pensados como uma câmera oculta que segue o passo a passo deste amado cãozinho, são a comunicação essencial que nos permite entender e interagir com as aventuras e desventuras de Bidu. Como seres cientes, projetamos no inanimado as reações humanas que, talvez, tivéssemos se passássemos por seus passos. Será?
No início da saga, vemos Bidu sem lar, morando num ferro-velho e sobrevivendo no jeito malandro de ser. Aquela velha história de animais de rua, presentes no nosso imaginário desde tempos de Manda-Chuva. Franjinha ainda não tem um amigo, está imerso em um protótipo qualquer, que poderia lhe dar o presente que mais gostaria, um cão. Os dois precisam percorrer várias páginas para que suas pontas se transformem em um laço. E no meio do caminho havia uma disputa territorial com Bugu e uma Carrocinha à procura de animais perdidos nas ruas.
Bugu é o azedume inseparável de Bidu nas páginas de Maurício. Mas em Caminhos, ganha uma nova perspectiva, menos infernizante até, mas esperto suficiente para não ser pego. No Abrigo de Animais onde Bidu fora levado, reencontramos o antagonista fortão que amedronta o herói nas páginas do passado, e que se apresenta na forma de Rúfius. A maldade não existe entre animais (certo?), e mesmo que as ações de Rúfius sejam de uma personalidade extrema, podemos ver que todos fazem a sua parte para sobreviver. Duque, que está no Abrigo, pois se perdeu de Titi estará junto ao restante do grupo até descobrir o paradeiro de seu dono.
Em uma aventura de desencontros, cada elemento se torna singular para a saga dos personagens. Os humanos são coadjuvantes, assim como nossa linguagem. Os cães se comunicam livremente, sem palavras, mas com imagens (a língua universal) que indicam suas reações, emoções e planos de fuga. A liberdade tem um custo-benefício e a palavra lar ganha outra conotação se colocarmos em balanço o que realmente ela quer dizer: ter alguém que se importa com você.