A leitura de agosto do meu Desafio Literário: 12 livros escritos por mulheres para 2017 foi realmente desafiadora. Primeiramente, porque não foi muito fácil escolher a autora. Em segundo lugar porque tive acesso apenas ao formato digital do livro escolhido e, digamos, esse não é meu modo preferido de ler. Mas venci o desafio com sucesso e quero contar como foi. Como sempre, antes de falar do livro em si, vou comentar sobre o motivo da minha escolha e, nesse caso, apresentar a escritora para vocês.
Contei aqui no início do ano sobre minha intenção de acrescentar uma escritora colombiana na lista desse desafio literário. Atualmente eu moro na Colômbia e acho realmente importante conhecer mais sobre a cultura daqui em todos os aspectos. Naquele momento pensei: “olha que boa oportunidade!”, afinal o único escritor colombiano que eu havia lido até o momento era o grandioso Gabriel García Márquez. Não conhecia mais nenhum, o que, para mim, já é motivo de vergonha, afinal, lemos escritores do mundo inteiro e muitas vezes ignoramos nossa literatura latinoamericana. Nos contetamos em ler os mais conhecidos e pronto, parece que nada mais foi/é produzido. Quando se trata de livros escritos por mulheres, então? Vamos ser honestos, quantas escritoras latinoamericanas você conhece? Sim, vale as brasileiras, porque Brasil é América Latina também. Mas ainda contando as escritoras brasileiras, aposto que o número é muito menor se comparado ao número de homens. Essa é uma crítica que faço a mim mesma (por isso comecei esse desafio literário): devemos ler mais livros escritos por mulheres.
Enfim, eu não fazia ideia de quantas ou quais escritoras colombianas existiam, então resolvi pedir recomendações. Por isso, esse era o único nome que faltava na minha lista, a princípio. Foi curioso perceber que mesmo as pessoas (colombianas) para quem eu pedi indicações também não sabiam me falar muitos nomes. Assim como no Brasil, é dada maior importância aos escritores. Mas consegui algumas sugestões. O próximo passo foi escolher entre aqueles nomes qual escritora ler. Depois de pensar bastante e pesquisar os títulos de cada escritora, escolhi pela Soledad Acosta de Samper. Guardei os outros nomes na minha lista de próximas leituras e prometo compartilhar com vocês em outro momento. Hoje vamos falar rapidinho sobre a minha escolhida.
Escolhi Soledad Acosta de Samper porque ela foi a primeira mulher a publicar um livro na Colômbia. Só esse motivo já é sensacional, mas além disso me chamou a atenção a temática da maioria de seus escritos: a mulher. Então, embora outros títulos de outras autoras tenham me interessado, resolvi “começar pelo começo” e ler essa que foi a pioneira entre as mulheres escritoras na Colômbia.
Soledad Acosta de Samper nasceu em Bogotá no ano 1833 e faleceu na mesma cidade, em 1913. Mas sua história não aconteceu apenas nesse lugar, a escritora – filha de um renomado militar colombiano – teve a oportunidade de morar também em Paris, Londres, Halifax (Canadá) e Lima, lugares onde estudou e viveu períodos diferentes de sua vida. Durante a fase adulta escrevia para jornais e revistas da Colômbia como correspondente. Soledad Acosta Samper trabalhou como escritora, historiadora e jornalista no século XIX, período em que era praticamente uma “transgressão da lei natural”, segundo o imaginário da época, que uma mulher se dedicasse a essas tarefas. Não apenas isso, ela fundou diversas revistas e jornais, sendo a revista La Mujer, a de mais sucesso, com duração de 1878-1881. O esposo da escritora, José María Samper, também era jornalista, escritor e político, e foi um dos grandes incentivadores de sua esposa (algo também bastante incomum para a época). O livro que li nesse desafio, Novelas y cuadros de la vida suramericana, foi uma compilação feita por ele, de várias narrativas que Soledad publicou em jornais e revistas, inclusive com pseudônimos. Mas vou falar melhor sobre esse livro na próxima publicação.
Em minhas pesquisas sobre a autora, encontrei alguns comentários falando que ela havia sido uma percursora do feminismo na Colômbia. Não sei se é possível dizer isso, primeiro, levando em consideração o contexto em que viveu. Segundo, observando os próprios textos de Soledad Acosta. A maioria de suas personagens é feminina, mas extremamente estereotipadas: a viúva, a coquete, a jovem apaixonada, a freira. Sua revista La Mujer – primeira revista feita por e para mulheres na Colômbia – na verdade, contava com textos sobre os deveres da mulher na sociedade moderna, seu papel na sociedade, etc. Acho que podemos dizer que Soledad Acosta Samper era uma mulher, ao mesmo tempo, filha de seu tempo e à frente de seu tempo. O objetivo dessa mesma revista era publicar textos escritos por mulheres sul-americanas, o que nos dá uma ideia de como essas mulheres se relacionavam com questões como filhos, casamento, sociedade patriarcal, religião, etc. Definitivamente, é um maravilhoso trabalho realizado por Soledad Acosta e sem dúvidas o início da inserção de mulheres no ambiente que até então era dominado por homens, mas talvez seja um pouco exagerado chamá-la de feminista, já que aparentemente a autora não buscava romper com as ideias impostas sobre o papel da mulher, ou o patriarcado. Obviamente, isso não desmerece todo seu trabalho.
Enfim, foi após conhecer a história dessa escritora que resolvi ler um de seus livros, como já citei, o Novelas y cuadros de la vida suramericana. Encontrei ele em formato físico em uma livraria aqui da Colômbia, porém era extremamente caro e não comprei. Resolvi procurar por algum formato digital e encontrei na Amazon bem baratinho, por menos de quatro reais. Se vocês tiverem interesse em comprar, AQUI está o link. O livro está em espanhol. Se também tiverem interesse em conhecerem a revista La Mujer, encontrei uma compilação de todas as edições em formato digital, na Amazon, por menos de três reais. AQUI está o link.
Na próxima publicação vou contar minhas impressões sobre esse livro, não se esqueçam de voltar aqui para ver. Até lá!