A vida de um aristocrata é cheia de glamour e ostentação. Bailes, óperas, jantares fartos e muitas pessoas bonitas. Mas independente do tempo, a maioria dessas pessoas vivem acorrentadas às tradições e modismos criados. O que fazer, aonde ir, quando ir, com quem ir regem as leis daqueles que querem ter o nome mencionado com orgulho nas rodas sociais.
Esse para mim é o ponto central de À Época da Inocência, de Edith Wharton (Penguin-Companhia), onde conheceremos Newland Archer, um jovem advogado da alta sociedade de Nova York que vive sob as regras da alta sociedade. Prestes a ficar noivo da jovem May, Newland segue à risca todos os mandamentos exigidos à alta sociedade, desde com quem falar e até mesmo no horário apropriado para se chegar a uma festa ou ópera.
A vida de Newland se transforma com a chegada da condessa Ellen Olenska , que faz a razão e Newland questionar as regras que antes ele tanto segue. A condessa Olenska é prima de May e amiga de infância de Newland, após anos morando na Europa, retorna à Nova York após uma separação conturbada com o marido. A sociedade da época é discriminatória, repudia àqueles que tomam atitudes contrárias as pré-determinadas, por isso se separar do marido fugindo com o amante é algo tido não só como um escândalo, mas a pessoa se torna uma vergonha para a família.
Para ajudar Ellen, Newland faz tudo que lhe está ao alcance para que seja aceita pelas pessoas certas e a orienta a tomar as melhores atitudes. Mas seu coração começa a ter dúvidas sobre seus sentimentos por May. Agora Newland terá que descobrir o que realmente sente pela noiva e escolher: continuar seguindo as regras que regem sua vida ou fazer o que seu coração segue.
O mais interessante do livro não é ver Newland tomando sua decisão, a autora brilhantemente resolveu nos dar não somente essa resposta, mas também o resultado da decisão tomada pela personagem. O livro nos mostra o decorrer de toda a vida de Newland e das demais personagens do livro (pelo menos as mais importantes), o que para mim, foi uma provocação. Quando começamos a ler, entramos em um mundo de sonhos, e ver as personagens conseguirem o que almejam é gratificante, mas pouquíssimos são os livros em que os autores nos permitem ver além dessa decisão e as consequências que isso trouxe a todos.
É um momento feliz ao lermos que o garoto falou que estava apaixonado, e que a garota aceitou se casar com ele. Mas e depois? Será que eles tiveram um casamento feliz? Como se sentiram quando vieram os filhos? Todos nós sabemos que a vida real não é fácil, e se a vida imita a arte, é interessante saber que nossos personagens são felizes, mas que também passam apertos de vez em quando.
A sensibilidade que Wharton trata isso é bem real e, ao mesmo tempo, delicado. Não minto, não é um livro de altos e baixos emocionais, onde vemos carros explodindo, paixões avassaladoras e decisões malucas que nos deixam pasmos. É um livro calmo, para alguns, devagar. Mas cada capítulo nos revela uma delicadeza, um cuidado em tratar cada personagem com carinho, tendo um cuidado em cada palavra para não fazê-los sofrer. Quem tiver paciência para ler, passará a ter um carinho por cada personagem, sem perceber quando isso aconteceu.