Considerado um dos maiores historiadores brasileiros, o filho de imigrantes judeus ucranianos escrevia e vivia a política em um país pós guerra
Para as buscas no Google, Leôncio Basbaum ainda é um desconhecido dos brasileiros, fora da academia, em 2022. Mas nos jornais de 1957, nas páginas do Diário de Notícias (RJ), Basbaum transitava como médico que atendia seus pacientes na Avenida Rio Branco número 108 e como escritor e pesquisador. No dia 14 de abril de 1957 está marcado o texto para o lançamento do terceiro volume da obra de Basbaum: “livro que considero importantíssimo: ‘História Sincera da República’, de Leôncio Basbaum. livro naturalmente para se ler devagarinho, aprendendo com lentidão e consciência” afirma artigo do Diário de Notícias.
Para os jornalistas que escreviam sobre a obra de Basbaum na década de 1950, a intenção do escritor não era somente explicar o Brasil e o marxismo, mas usar a teoria para transformar o país, conforme o que foi escrito no mesmo Diário de Notícias. A história de Leôncio Basbaum começa longe da Avenida Rio Branco e distante do impacto de sua obra para o pensamento brasileiro. Sua origem é numa família de imigrantes judeus vindos da região que hoje é conhecida como Moldávia. nasceu em Recife no dia 6 de novembro de 1907, filho de Isaac Basbaum e de Clara Basbaum, imigrantes judeus vindos da Bessarábia (hoje Moldávia), proprietários de uma pequena joalheria na capital pernambucana.
Quem foi Basbaum
Nascido na capital de Pernambuco, Leôncio Basbaum se formou em medicina em 1929, mas desde cedo conciliou a atividade com a dedicação para a literatura, já que escreveu contos para a revista Número (Rio), assinando com o pseudônimo de Jeremias Cordeiro.
Em 1925, acontece um marco para a vida pessoal e profissional de Basbaum, ainda no curso de medicina no Rio de Janeiro, torna-se membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e integra a primeira célula da Faculdade de Medicina. Era comum na época, como trabalho que ajudava a custear os estudos, e Basbaum passou a trabalhar como revisor na Gazeta de Notícias. Depois de um período em Recife, Basbaum volta ao Rio de Janeiro e é encarregado de fundar a Juventude Comunista na capital do país. Para a formação da Juventude Comunista, Leôncio utilizava o jornal A Nação.
Em maio de 1932, depois de quase uma década como médico e integrante do PCB e após se firmar como figura importante do Partido Comunista, ser preso e ter posições dentro do partido que afastaram Prester por um tempo, foi durante o movimento grevista em São Paulo que Basbaum foi preso junto com vários líderes grevistas. Basbaum ficou no presídio de Ilha Grande até o final daquele ano.
Ao sair da prisão, tendo sido reeleito para o comitê central do partido, e sempre manteve sua posição contrária ao cunho “obreirista” do partido. Acusado de, durante a organização de comitês contra a guerra, ter postura burguesa dentro do partido comunista, Basbaum abandona o partido e volta a Recife. Durante o ano de 1933, novamente usando um pseudônimo, desta vez assinando como Augusto Machado, escreveu “A caminho da Revolução Operária e Camponesa”.
De volta ao PCB
O período fora do PCB dura pouco e Basbaum regressa em 1936 quando estava em Salvador, mas o período na capital baiana dura pouco e o médico e pensador marxista volta ao Rio de Janeiro onde começa a trabalhar no livro Introdução ao estudo da história da filosofia. O livro só foi publicado no Brasil em 1944.
Vivendo a ilegalidade do partido e logo depois voltando para a legalidade, Basbaum tem várias atividades profissionais: gráficas, gerente nas Lojas Brasileiras, vendedor em uma loja de roupas e até proprietário de uma loja de brinquedos adquirida em 1948. Durante a década foi preso algumas vezes o que o obrigava a mudar de emprego e de cidades.
Em 1950, quando o PCB lançou um manifesto propondo a formação de uma Frente Popular de Libertação Nacional, Basbaum viu que o caráter “de colaboração”, o qual sempre foi crítico severo, do partido estava sendo abandonado, o que o aproximava da nova visão do partido. Ainda em 1954, se empregou como propagandista de um laboratório farmacêutico. Em 1956, voltou a clinicar no Rio de Janeiro. Apesar da instabilidade profissional e geográfica, o escritor e pesquisador nunca descansavam. No final da década de 1950, escreveu capítulos adicionais para o livro “Fundamentos do Materialismo” e terminou “Caminhos Brasileiros do Desenvolvimento”. Além disso, após fundar a Editora e Agência Literária, publicou “No Estranho País dos Iugoslavos”. Em 1956, terminou o terceiro volume de “História Sincera da República” e em 1963, “Processo Evolutivo da História”.
Vida pós golpe militar
Após o golpe militar de 1964, a “ Editora e Agência Literária” é fechada. Em 1966, Basbaum conclui o texto de “História e consciência social” e, em 1967, “Alienação e Humanismo”. O final da década de 1960 é produtivo para o pensador do marxismo no Brasil: em 1968 publicou o quarto volume da “História Sincera da República”; no final de 1968 terminou Uma vida em seis tempos. Após décadas de uma vida dedicada ao pensamento marxista em território brasileiro , Leôncio Basbaum morre no dia 17 de março de 1969, em São Paulo. Termina a vida dedicada ao Partido Comunista, mas sempre houve pensamentos divergentes e Basbaum morre sem voltar ao partido.