A discriminação contra pessoas ou grupos por causa de sua idade não é algo novo. O etarismo é um preconceito e pode assumir muitas formas que perpetuam a discriminação etária.
Durante nossa vida, vamos crescendo e amadurecendo. Amadurecer significa, também, mais aprendizado em todas as áreas de nossa vida. Mas infelizmente, nem todos vêem isso com bons olhos.
O termo etarismo foi criado pelo gerontologista Robert N. Butler (1927/2010) para descrever a discriminação contra adultos mais velhos. Porém, o conceito evoluiu e é aplicado a qualquer tipo de discriminação com base na idade, como preconceito contra crianças, adolescentes, adultos também.
O preconceito com base na faixa etária é visto em diversas situações do dia a dia. No trabalho, por exemplo, o etarismo pode levar a disparidades salariais e até a uma maior dificuldade de encontrar emprego.
O etarismo (ou ageísmo, como também é conhecido) afeta adultos mais jovens, que podem ter dificuldade em encontrar o primeiro emprego, já pessoas mais velhas costumam ter problemas para conseguir promoções, encontrar um novo trabalho e mudar de carreira.
O problema do Etarismo no mercado de trabalho
Algumas pessoas, e diversas empresas, possuem preconceito quanto à pessoas de determinada idade. Algumas lojas de shopping, por exemplo, se recusam a contratar pessoas com mais de 34 anos (ouvi isso de uma gerente que afirmou ser determinação da rede). De acordo com o Seade, órgão de estatísticas do governo estadual, a população entre 40 a 59 anos tem a segunda maior taxa de desemprego da Região Metropolitana: 20,2%.
Um dos principais motivos são mitos que foram sendo inseridos no mercado de trabalho de que as pessoas mais velhas são: obsoletas, não trabalham com agilidade de alguém jovem etc. No entanto, nenhuma dessas justificativas se mostra verdadeira, principalmente agora, onde a qualidade de vida do cidadão tem melhorado sua saúde física e mental.
A qualidade de vida atual tem criado pessoas que ao manter uma vida saudável, continua com energia e disposição suficiente para continuar trabalhando. Algumas pessoas já estão até aposentadas, porém decidem continuar trabalhando para se manter ocupado ou, até mesmo, porque gostam. Mas infelizmente têm tido dificuldade de se manter no mercado de trabalho devido ao preconceito.
Madonna e sua luta contra o etarismo
Se para muitos o etarismo parece afetar apenas o cidadão comum, basta só olhar a TV para percebermos que não. A cantora Madonna, é uma das que mais luta contra o preconceito com idade.
A cantora sofreu uma avalanche de críticas durante o lançamento de seu álbum Madame X. Aos 60 anos, alguns críticos afirmaram que ela estaria se portando como uma garotinha e perdido a mão com a justificativa que “ficou velha”.
O álbum, projetado para o pop, tinha como objetivo alcançar o público mais jovem, que ainda não conhece tão bem a cantora. Para isso, Madonna incluiu nomes da nova geração pop para integrar suas músicas. Nada mais do que Madonna sempre fez, assim como diversos outros cantores. Mas a crítica decidiu culpar a idade.
Madonna já havia afirmado anos antes em entrevistas que “uma mulher não podia cometer o crime de envelhecer porque seria atacada”. Foi o que aconteceu mais um vez. Em entrevista concedida a um site de notícias, a cantora comentou que é ridícula “a ideia ultrapassada e patriarcal de que uma mulher precisa deixar de ser divertida, curiosa, aventureira, bonita ou sexy depois dos 40 anos.”
Etarismo e as mulheres
Apesar do etarismo afetar a todos, é bem claro que as mulheres são as mais afetadas. Segundo estudos feitos na França, para as idosas, a situação é ainda mais complexa, porque não apenas são excluídas das mídias por terem envelhecido como por serem mulheres. No meio musical, a situação não é diferente.
Um exemplo claro se encontra na mídia e foi relatado por muitos com o ator americano Tom Cruise. Com 57 anos, Cruise continua trabalhando como estrela principal de seus filmes, porém as atrizes que contracenam, e principalmente, fazem par romântico com ele, são sempre jovens, com menos de 35 anos.
Outro caso claro está com o ex-casal Antonio Banderas e sua esposa Melanie Griffith. A atriz era a grande estrela dos anos 80, com grandes filmes como Uma secretária de futuro, foi uma das primeiras atrizes a reclamar da falta de oportunidades para atrizes após os 45 anos. Enquanto a atriz tem poucas aparições no cinema nos últimos 20 anos, Banderas continua com trabalhos como protagonista.
Luta contra o preconceito
É contra esse tipo de preconceito e exclusão que luta uma comissão criada em 2015 pela atriz francesa Marina Tomé, na AAFA (Atrizes e Atores Associados da França), o “Túnel dos 50”. O grupo criou um manifesto para protestar contra “o desaparecimento das atrizes a partir dos 50 anos” das produções cinematográficas e televisivas. O objetivo é lutar contra os estereótipos relacionados à idade das mulheres, já que, para seus membros, essa falta de visibilidade às francesas seniores é um grave problema para a sociedade.
Na França, a diretora francesa Delphine Lalizout tem lutado contra esse preconceito. Ela aponta que na totalidade dos filmes franceses lançados em 2015, apenas 8% dos papéis foram atribuídos a mulheres com mais de 50 anos. Em 2016, esse número ainda piorou e passou a 6%. “Mulheres com mais de 50 anos são mais da metade das francesas maiores de idade no país, o que corresponde a um quarto do total da população da França acima dos 18 anos. Ou seja, constatamos que essa discriminação de fato existe e que as mulheres são duplamente penalizadas: pelo sexismo e pelo ‘ageísmo’”, salienta.
Combatendo o etarismo
O envelhecimento da população precisa mobilizar as administrações locais, gerando políticas públicas em prol dos idosos e da evolução do olhar sobre a idade.
“Frequentemente, quando se fala de um idoso, ele é reduzido à sua característica de sênior. Esquece-se que, antes de tudo, ele é uma pessoa, que ele existe, tem uma vida, paixões, competências… Foca-se em suas incapacidades ao invés de valorizarmos os dons dessa pessoa para enriquecer a sociedade”, afirma Elodie Llobet diretora da agência francesa Generacio, que estuda o ageismo na sociedade.
Llobet questiona até mesmo a utilização de certos termos para designar os idosos que podem ser pejorativos, como “sênior” ou até mesmo a expressão “terceira idade”. A especialista considera que, com a evolução das populações, já existe hoje a quarta idade. Ela lembra, por exemplo, que a maioria das famílias francesas são formadas por quatro gerações.
Llobet percebe que, apesar de a expectativa de vida evoluir ao longo dos anos, o preconceito contra os idosos é uma constante. “Nas próximas décadas, vamos ver o aumento de pessoas de 75, 80 anos no mundo. Por isso, é urgente pensar sobre como iremos manter essas pessoas integradas na sociedade. De que forma não os excluiremos? Adaptação de nossas cidades, os transportes, as residências para que essas pessoas não sejam desligadas da sociedade”, avalia.