A “maratona Paulo Freire” será precedida pela realização da live – Paulo Freire 100 anos: Pensamento, Experiências e Derivações, transmitida ao vivo, no dia 18/9, sábado, às 16h. Assista em youtube.com/sescsp. A atividade integra a programação da série Ideias #emcasacomosesc, promovida pelo Sesc São Paulo por intermédio de seu Centro de Pesquisa e Formação (CPF), com participação do público e tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
O encontro promove a transmissão ao vivo de debates sobre as principais questões que tensionam a agenda sociocultural e educativa atual, com o objetivo de incentivar a reflexão no contexto desafiador em que nos encontramos. Com participações da educadora social Bel Santos Mayer – uma das criadoras do projeto Biblioteca Caminhos da Leitura, que promove a leitura em espaços remotos, na região Parelheiros, em São Paulo; o diretor e roteirista Cristiano Burlan e o educador Moacir Gadotti é docente aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e presidente de honra do Instituto Paulo Freire.
Mediação de Guta Araújo – Pedagoga. Assistente técnica da Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc São Paulo, com foco na organização e coordenação técnica das ações voltadas ao público Infanto juvenil, além de outros assuntos em relação à educação e as infâncias. Apresentação de Sidênia Freire – Coordenadora de Programação do SescTV.
Os participantes do bate-papo Paulo Freire 100 anos: Pensamento, Experiências e Derivações, levarão para o debate um pouco sobre suas vivências com mediação de leitura em espaços alternativos – inspirados na obra “Freiriana”; a amizade com Paulo Freire durante os tempos do exílio e a contribuição que o audiovisual pode dar à disseminação do legado deixado pelo educador.
Sobre a série:
Paulo Freire, Um Homem do Mundo é dividida em cinco episódios: A Formação do Pensamento; As 40 Horas de Angicos; O Exílio; Do Pátio do Colégio à Pedagogia do Oprimido e O Mundo Não É, Está Sendo. Todos mesclam depoimentos de familiares, colegas de profissão e amigos íntimos do pensador. A série trata da vida e obra do educador desde Recife, passando pelas 40 horas de Angicos – experiência de alfabetização com adultos do sertão do Rio Grande do Norte –, o seu exílio em Genebra e suas ações como secretário de educação da cidade de São Paulo, investigando também a reverberação de seu pensamento nas artes. Paulo Freire, Um Homem do Mundo nos convida a mergulhar na trajetória de um dos maiores intelectuais brasileiros.
O primeiro episódio, A Formação do Pensamento, por exemplo, em grande parte é narrado pelo próprio Paulo Freire, que fala sobre sua família, seu primeiro espaço de aprendizagem. A família foi o lugar em que ele entendeu a importância do diálogo, aprendeu a viver e superar dificuldades. O educador também lembra de sua origem na cidade de Recife e a mudança para Jaboatão dos Guararapes (PE), aonde passou parte de sua infância. “Lá a experiência da fome cresceu, não tínhamos dinheiro para comprar os produtos do mercado. Mas não havia fome rigorosa porque tínhamos frutas em abundância”, diz Freire. Os primeiros passos do marido na escola são relembrados por Ana Maria Freire, educadora e viúva do pedagogo: “Paulo começou a estudar como bolsista, em 1937, no segundo ano fundamental do colégio de meu pai. ” Ana explica ainda, que no mesmo colégio Freire cursou o 2º ano do fundamental, o pré-jurídico, e a Escola de Direito do Recife e que antes de terminar os estudos, o educador tornou-se professor de Língua Portuguesa por notório saber.
As 40 Horas de Angicos revisita a cidade de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, à beira de uma antiga estrada de ferro, onde 13 mil habitantes viviam do trabalho no campo e mais de 75% dos adultos viviam e morriam na pobreza e no analfabetismo, um problema básico do estado na época. Foi esse o local escolhido para ser realizada uma experiência com a proposta de alfabetizar jovens e adultos de baixa renda em 40 horas, liderada por Paulo Freire. Antes do projeto ser vetado, o educador conseguiu concretizar seu método de ensino sem cartilhas ao alfabetizar 300 pessoas, tendo como base suas vivências fora da sala de aula e estimulando os alunos a associarem o aprendizado com o dia a dia. O episódio conta ainda com depoimentos de ex-alunos, professores e do próprio Freire.
Maria Eneide hoje é professora, mas tinha apenas seis anos de idade quando ouviu um carro de som que passava nas ruas, avisando que haveria na cidade aulas para adultos, e pediu que seu pai a levasse. “Foi assim que aprendi a ler, no colo de meu pai e com minha mãe ao meu lado”, conta a professora emocionada.
Já Francisca de Brito, aposentada, ex-aluna de 40 horas de Angicos, lembra da experiência com alegria, porque aprender a escrever o nome foi marcante. “Antigamente uma pessoa pobre não era gente. Tinha uma festa, ninguém pobre podia entrar. Hoje em dia tudo é igual. Todo mundo, pouco ou muito sabe”, afirma. A aposentada lamenta que por causa de muitas “conversas” as aulas acabaram, antes de completarem as 40 horas houve investigações e os alunos foram obrigados a queimar os livros. Mas comemora: “ Hoje sei votar, conheço meus direitos e daí começou a sabedoria do povo”, conclui Francisca.
O terceiro episódio é intitulado como O Exílio. Conforme o nome sugere, o capítulo retrata a experiência de Paulo Freire durante o exílio, no período de 1970 a 1980, em Genebra, na Suíça, e o quanto essa vivência repercutiu em seu trabalho. O Exílio traz, ainda, depoimentos de Freire e de colegas com quem conviveu. A psicopedagoga Dina Borel conta que conheceu o educador em um de seus seminários. Segundo ela, foi um encontro de vida, uma revelação. “Era incrível um pedagogo em Genebra falar do povo com aquela sabedoria, não apenas sobre a teoria dos oprimidos, mas para o povo em geral, para a inteligência coletiva e para a construção do saber como ato coletivo e não individual”, observa.
Dina ainda completa que Freire quase arrancava o pensamento e que por isso, ele era revolucionário: “Sobretudo através da tomada de consciência, como ele dizia, a conscientização diz respeito não apenas a experiência da miséria em que vivemos, mas também de quem eu sou, de quem é o outro e quais são as minhas reais necessidades. Era uma tomada de consciência para mudar o mundo”, explica a educadora.
O retorno de Paulo Freire ao Brasil após 15 anos de exílio, é o que retrata o episódio Do Pátio do Colégio à Pedagogia do Oprimido. “Todo esse tempo fora do País exige de mim um processo de reaprendizagem do Brasil. ”, diz Freire com alegria, em sua chegada. A primeira parte do episódio conta com depoimentos do pedagogo sobre as expectativas de seu retorno. Na sequência, profissionais ligados a Freire e a educação como Fernando Bárcena, professor da Universidade Complutense de Madrid; Madalena Freire, sua filha; Ausonia Favorido Donato, diretora pedagógica do colégio Equipe e Moacir Gadotti, presidente de honra do Instituto Paulo Freire, comentam sobre a importância do trabalho do educador e seu legado. Luiza Erundina, deputada federal e ex-prefeita da cidade de São Paulo, conta sobre o momento em que conheceu Paulo Freire pessoalmente, no final da década de 1970.
O quinto episódio O Mundo Não É, Está Sendo, conta com depoimentos de Paulo Freire e artistas como o diretor da Cia do Tijolo – Dinho Lima Flor; e o cantor e compositor Chico César, que traçam um panorama entre a arte e a educação, tendo a palavra como ferramenta. “Freire é um educador nordestino que propôs um ensino que permite reconhecermos o saber aonde ele já existe”, diz Chico César. Segundo ele a pedagogia, o método e os pensamentos de Paulo Freire são atuais e vão permanecer para sempre. O compositor fala também sobre Beradêro, música que fez em homenagem a Paulo Freire. “Ele ficou muito feliz pela homenagem, por que de certa forma, seu destino sempre foi muito ligado às questões do não saber, sabendo”, conclui Chico César.