Além de ícone do Barroco e defensor dos índios no Brasil Colonial, Padre Antônio Vieira comoveu e ganhou a confiança de muitos com seus sermões.
Vida pessoal do Padre Antônio Vieira
Antônio Vieira nasceu em Lisboa, Portugal, em 1608, tendo 4 irmãos e uma avó africana. Seu pai era funcionário da Marinha, na função de escriturário e se mudou para o Brasil com a mulher e Antônio, que tinha seis anos de idade.
Chegando na Bahia, Antônio estudou no Colégio dos Jesuítas de Salvador e posteriormente entrou para a ordem Companhia de Jesus como noviço. Depois da invasão holandesa, ele decide ser missionário.
Com 18 anos, foi encarregado de traduzir o relatório anual dos trabalhos da Companhia para ser encaminhado para a Roma: era o início do reconhecimento do seu talento para a escrita. O jovem Antônio não imaginava que viria a ser o maior prosador em língua portuguesa no século XVII.
O futuro padre passou então a estudar Teologia, além de Lógica, Matemática e outras disciplinas. Passou também a atuar como professor de Retórica, no Pernambuco. Alguns anos depois entrou para a carreira diplomática, já era sacerdote e impressionava a todos com os sermões, conquistando até mesmo o rei João IV. Em 1653, volta ao Brasil e passa a trabalhar pela libertação dos índios.
Depois de muitas viagens, em 1688 volta ao Brasil pela última vez, trabalha intensamente na coleção “Sermões” até que a saúde se torna debilitada. Com 89 anos já sem voz ele falece na Bahia, mesma terra da infância.
Produção literária
Vieira deixou centenas de sermões, quase mil cartas, além de uma variedade de profecias e sexagésimas.
Sermão da Sexagésima
Foi sua obra mais famosa. Proferiu esse sermão na Capela Real de Lisboa e tinha o intuito, ao fazê-lo, de converter os ouvintes ao catolicismo. De forma surpreendente, o conteúdo do sermão é sobre a culpa dos pregadores e a ineficácia dos religiosos. Em 10 partes, Vieira discorria utilizando estrategicamente metalinguagem, jogo de ideias e racionalidade para repassar sua mensagem. Como todo fiel representante do Barroco.
Para melhor compreender todas essas características, veja abaixo um trecho do sermão:
“Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumiando”.
Sermão de Santo Antônio aos Peixes
Já esse sermão foi proferido em São Luís do Maranhão, em um dia de Santo Antônio. Logo depois, Vieira viajava para Portugal com o objetivo de interceder em favor dos índios às autoridades lusitanas.
O título do sermão sugere uma alegoria, em que os peixes são os homens. Dividido em seis partes, Sermão de Santo Antônio aos Peixes exalta a obediência dos peixes e condena os vícios. Em meio a várias outras metáforas, Vieira classifica os peixes em virtuosos, como a Rêmora e os defeituosos, como o Polvo, que devora uns aos outros. Nas entrelinhas, Vieira condenava a exploração portuguesa e a escravização dos indígenas. Um trecho dele dizia o seguinte:
“Vede, peixes, e não vos venha vanglória, quanto melhores sois que os homens. Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.”
Para quem se interessar em ler os sermões na íntegra, o Domínio Público disponibilizou alguns deles. Clique aqui e aproveite!
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