Oi, pessoas!
Estou de volta para, finalmente, falar sobre o livro O Pomar das Almas Perdidas, leitura de setembro do meu Desafio Literário: 12 livros escritos por mulheres negras para 2018. Na última publicação comentei sobre a escolha de inserir essa obra na minha lista e, como prometido, hoje vou contar minhas impressões após a leitura.
O Pomar das Almas Perdidas é um livro que me tocou de diversas maneiras. Para ser sincera, o sentimento predominante no processo de leitura foi tristeza. Espero que contar isso logo de cara não desanime ninguém a ler a obra, mas vocês hão de concordar que não há muitas histórias felizes em um contexto de guerra e ditadura. Pois bem, esse é o contexto da história narrada por Nadifa Mohmed.
A autora volta aos fins dos anos 80, período em que a Somália está em plena ditadura militar e uma sangrenta guerra civil. A história se passa em Hargeisa capital do país e tem como foco três mulheres: Deqo, Kawsar e Filsan, que têm suas histórias cruzadas por causa da violência.
São mulheres de gerações diferentes. Deqo é uma menina de 9 anos, órfã, que vive em um campo de refugiados. Kawsar é uma senhora viúva e em luto pela filha adolescente que morreu após ser presa pelos militares. Filsan é uma jovem soldado, que deseja ser reconhecida por seu trabalho e alcançar postos mais altos. Como essas três mulheres poderiam se encontrar?
Na festa de aniversário da chamada revolução (ou do golpe militar, no caso), Deqo decidiu se apresentar em uma dança junto com outras meninas do campo de refugiados, com a promessa que ganharia um par de sapatos. Porém, ao ver-se diante daquela multidão, se atrapalhou e não conseguiu seguir a apresentação. Seu castigo foi ser espancada ali mesmo. Kawsar, ao ver a agressão, não se conteve e defendeu a pequena desconhecida. Por essa razão, foi presa. Na prisão, foi interrogada por Filsan e o que acontece nesse interrogatório é extremamente importante para o desenrolar das histórias dessas três mulheres. Na verdade, após essa cena na delegacia, a narrativa se modifica. Cada capítulo a partir daí é dedicado a uma das personagens que, no final do livro, se encontram novamente. Mas só vou contar até aqui, para deixar vocês curiosos por saber o final.
Feito esse pequeno resumo, quero contar minhas impressões sobre O Pomar das Almas Perdidas. Primeiro, como disse, a tristeza me acompanhou durante a leitura. Não apenas por conhecer um pouco mais da triste história da Somália, mas também por ter uma noção da situação da mulher nesse contexto. Não importa a faixa etária, a classe social ou a profissão, todas as mulheres são marcadas pelo machismo e pela violência. Me chamou a atenção uma passagem logo no início do livro, que ilustra um pouco isso:
– Olhe para nós, somos a mesma mulher em idades diferentes – ri Fadumo, com a bengala oscilando à sua frente.
É verdade: elas são idênticas (…). Parecem ilustrações de um livro didático, todas iguais nas mesmas roupas, com apenas algumas rugas no rosto ou as costas curvadas para marcar a idade. É desse jeito que o governo parece querê-las – cartuns sorridentes sem nenhuma exigência nem necessidade própria.”
MOHAMED, Nadifa. O Pomar das Almas Perdidas. Editora Tordesilhas, 2015. (p.12)
Em segundo lugar, achei interessante que essa percepção só é possível pela maneira como a Mohamed escreve. Ela constrói as personagens e costura as histórias de um jeito que é impossível não apenas se compadecer da situação dessas mulheres, mas também se identificar. Até mesmo com Filsan, soldado lutando ao lado do opressor e fazendo tudo o que faz. Apenas uma mulher escrevendo para captar, inclusive nos menores detalhes, ao que nós, mulheres, estamos expostas. No caso do livro, ainda mais grave, pois em um contexto de guerra.
Mas, por favor, não se prendam a essa tristeza. A autora narra todos esses acontecimentos ruins com bastante sensibilidade e uma poética impressionante. Em meio às violências, destruição, mortes, deserto, o encontro dessas três personagens faz surgir algo que, na minha percepção, é promissor. São três mulheres caminhando juntas. Não há nada mais promissor que isso.
Leiam O Pomar das Almas Perdidas. Ele está naquela listinha de livros necessários. Depois venham me contar o que acharam!
….
Para ver a lista completa do meu desafio literário de 2018, com os links das publicações passadas, cliquem AQUI.
Até mais ler!
Olá! estou fazendo minha dissertação com este livro, e como vc disse é essa tristeza que temos que mostrar e apresentar para um numero maior de pessoas, para saber como é o mundo ao nosso redor.