Pablo Neruda foi um poeta chileno, nascido em 1904. Ele foi um dos grandes nomes da literatura latino-americana e mundial, ganhador do prêmio Nobel em 1971. Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas e até hoje o poeta é celebrado por causa de seus livros, como os renomados, “Canto Geral” (1950), “Memorial de Isla Negra” (1964), “Confesso que vivi” (1974), entre outros.
A história de vida de Pablo Neruda mescla sua criação literária, sua participação política em diversas esferas, sua ideologia e militância pelo socialismo e seus amores. É possível ler sobre todos esses temas em seus poemas, obviamente, mas também é possível ver as várias facetas de Neruda em seus posicionamentos, em seu modo de vida e até em suas casas. Isso mesmo! As casas desse poeta contam muito de sua história e é sobre elas que quero falar hoje.
Tive a oportunidade de visitar o Chile em 2012 e 2013. Foram visitas rápidas, por questões de trabalho, mas que felizmente me permitiram conhecer lugares muito interessantes. Entre eles, conheci duas das três casas que pertenceram a Neruda e que foram transformadas em museus. As casas estão localizadas em lugares diferentes: há uma em Santiago, a casa “La Chascona”; outra em Isla Negra; e outra em Valparaíso, a casa “La Sebastiana”. Visitei as duas primeiras e, por isso, é sobre elas que falarei um pouco mais.
“La Chascona”
“La Chascona” pode ser traduzido como “A despenteada”, ou “A descabelada”. Neruda batizou sua casa em Santigo com esse nome em homenagem a Matilde Urrutia que tinha uma vasta cabeleira ruiva. Neruda, nessa época, mantinha um relacionamento extraconjugal com Matilde e construiu essa casa para os dois viverem juntos.
A casa está localizada aos pés do Cerro San Cristóban e tinha uma vista maravilhosa das cordilheiras. Hoje em dia não há essa vista, que foi bloqueada pelas construções de outras casas e prédios na região. A casa adquiriu sua configuração final em 1958 e conta com um lindo jardim, biblioteca, vários quartos e uma cozinha. A sala de jantar, um dos lugares mais legais da casa, reproduz o formato de um navio e é impressionante como a sensação de estar ali parece mesmo com a de se estar em um navio. Também impressiona como cada cômodo da casa parece haver sido pensado de maneira individual, mas em uma perfeita sintonia com a casa inteira. Todas as pinturas e objetos de decoração contam sobre a vida do poeta. Há muitas pinturas, de fato, inclusive uma de Matilde, feita pelo artista mexicano Diego Rivera, que era amigo de Neurda.
“La Chascona” foi praticamente destruída em 1973, após o golpe militar no Chile. Ela foi invadida pela polícia, os livros da biblioteca de Neruda foram incendiados, o jardim destruído, objetos quebrados… Um momento muito triste para a história do Chile foi também um dos momentos mais tristes da vida de Neruda, que acreditava no socialismo e foi profundamente impactado com o golpe orquestrado por Pinochet. De fato, Neruda viria a morrer 12 dias após o golpe, em 23 de setembro de 1973. A causa da morte do poeta foi polêmica por muitos anos. Ele sofria de um câncer de próstata e já estava debilitado nessa época, devido à doença. Mas muitos de seus amigos e militantes contra a ditadura afirmavam que Neruda havia sido envenenado no hospital. A polêmica só foi resolvida em 2013, com a exumação do corpo para a realização de exames toxicológicos. Apesar disso, há quem acredite que o golpe militar foi o responsável pela morte de Neruda, que não suportou ver seu país sob o comando de uma ditadura. La Chascona foi refeita depois por Matilde e atualmente é responsabilidade da Fundação Pablo Neruda.
Compartilho com vocês algumas fotos que fiz do exterior da casa. Não era (acho que ainda não é) permitido tirar fotos do interior. Mas dá para ter uma ideia pelo menos do tamanho. Quem pretende visitar a casa-museu “La Chascona”, ela fica localizada no bairro Bellavista, em Santiago.
Isla Negra
Na minha opinião a casa de Isla Negra é a mais incrível de todas. Posso parecer injusta porque não cheguei a conhecer a casa de Valparaíso, mas desconfio que é difícil ganhar de uma vista exuberante para o Pacífico, tendo a praia como quintal. O próprio Neruda dizia que essa era sua casa favorita e foi onde passou a maior parte do tempo com sua esposa Matilde. O formato da casa faz referência aos vagões de um trem, em homenagem ao pai de Neruda, que foi ferroviário. Mas, na verdade, a casa de Isla Negra demonstra todo o amor que o poeta tinha pelo mar. Não apenas por causa localização, mas também pela forma como foi decorada.
A casa foi concluída em 1965 e possui objetos de decoração do mundo inteiro, adquiridos por Neruda em suas viagens ou presentes de seus amigos. Mas os objetos com temática marinha também ganham um destaque, perto de seus brinquedos de infância e sua coleção de conchas. Do lado de fora, há um barco e um campanário, outras demonstrações de amor de Neruda pelo mar, apesar de haver ficado sempre em terra firme. Nos jardins, atualmente, estão os túmulos de Neruda e Matilde, sua esposa, que faleceu em 1985.
Como todas as casas de Neruda, essa possui um bar muito bem montado. Durante a visita guiada ao museu, somos informados sobre curiosidades da vida cotidiana do poeta, como por exemplo, o fato de que ele gostava muito de receber amigos nesses bares, de preparar comidas e servir as bebidas em copos coloridos, porque, segundo ele, esses copos deixam a bebida mais saborosa. É incrível andar pelos cômodos da casa e imaginar a vida do poeta naquele lugar tão maravilhoso. Neruda e Matilde viveram na casa de Isla Negra por muitos anos e ficaram ali até Neruda ir em estado grave para Santiago, onde morreria poucos dias depois.
As fotos que compartilho a seguir também são do exterior da casa, pois não era permitido tirar fotos do interior.
“La Sebastiana”
A casa de Neruda em Valparaíso foi a única que não tive a chance de conhecer ainda. Segundo me informei, a história é que Neruda queria descansar da agitação de Santiago e por isso comprou essa casa em Valparaíso. A casa começou a ser construída pelo espanhol Sebastián Collado (por isso o nome “La Sebastiana”), que faleceu antes de terminá-la. Neruda a comprou em 1959 e deu continuidade à construção. A inauguração foi em 1961, com uma grande festa. Depois da morte do poeta, a casa ficou abandonada até 1991, quando foi restaurada e transformada também em um museu.
Infelizmente não tenho muito o que dizer sobre essa casa, pois, como disse, foi a única que não pude visitar. Espero ter a oportunidade de conhecê-la em minha próxima visita ao Chile e com certeza contarei aqui um pouco mais sobre a casa, apesar de já saber que ela deve ser tão incrível quanto as outras.
Se vocês têm curiosidade para saber mais sobre as casas e querem fazer uma visita quando viajarem ao Chile, acessem o site da Fundación Pablo Neruda, para encontrar mais informações sobre os horários e dias de visita.