O que exatamente significa ser mulher¿ Existe ou não feminismo¿ Em tempos em que se discute tanto sobre isso, sobre ser mulher, sobre direitos da mulher, entre tantos outros assuntos relacionados ao mundo feminino, a nigeriana Safi Atta escreveu Tudo de Bom vai Acontecer, editado aqui no Brasil pela Record. Uma história sobre duas nigerianas que cresceram em um país em constante guerra. Vizinhas, com mesma idade, mas pertencentes a mundos diferentes seja pela religião, pela cultura, pela educação ou pela ideologia.
O livro é contado pela perspectiva de Enitan Taiwo, que de menina a mulher viveu dramas e vivenciou transformações em sua cidade, país e porque não no mundo. Nascida em Lagos, Nigéria, a história começa em 1971, quando ela tinha 11 anos. Já nesta idade via-se presa e limitada entre a influência religiosa da mãe e o senso político do pai. Foi neste ano que ela conheceu Sheri Bakare, uma menina “precoce”, com costumes e até religião diferentes, mas que de alguma forma lhe chamava a atenção e atiçava sua curiosidade.
Sheri era a filha mais velha de uma família muçulmana, era mestiça e morava com suas duas madrastas. Já Enitan era filha única, de uma família cristã. Logo as duas tornam-se amigas e mesmo a ida de Enitan para um colégio interno não afetou a amizade. Enitan tornou-se uma mulher moderna que questionava a tradição muitas vezes de forma ingênua, mas muito autêntica. Já Sheri, permaneceu rude e vaidosa, mas forte, determinada e ligada às raízes.
Tudo de Bom vai Acontecer traz todos os questionamentos, dramas, dúvidas e atitudes de uma nigeriana em um país em constante mudança, sempre com muita violência e corrupção. Uma nação que sobrevivia a golpes ora militares, ora civis, tentando inserir modernidade aos costumes e tradições. Além de ser um país em que “quanto mais as mulheres desistem do direito de protestar, mais são apreciadas”.
A sensação é de que em essência, as duas amigas, Enitan e Sheri, poderiam se encaixar em qualquer cultura, em qualquer país, com suas posturas, ideais, tradições. Se saber mulher e defender essa condição, não tem língua, religião, cor ou nação.