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Stieg Larsson – A Verdadeira História do Criador da Trilogia Millennium

capaSe falássemos o nome de Siteg Larsson há 10 anos atrás é certo que muita gente não saberia de quem estávamos falando. Hoje o improvável alguém no mundo ouvir esse nome e remeter a Millennium.

A série de livros policiais Millennium publicados no Brasil pela Companhia das Letras se tornou sucesso de vendas em todo mundo e se tornou filme de sucesso em Hollywood, mas Larsson, o criador de Lisbeth Salander não teve a oportunidade de sentir o gosto do sucesso. Algumas horas após entregar os manuscritos da série na editora, Larsson faleceu após sofrer um infarto.

Com uma morte tão prematura os fãs de Millennium já iniciaram suas leituras sabendo que não poderia se esperar mais nada do autor além dos 03 livros lançados, mas agora podemos conhecer um pouco mais sobre a vida de Larsson na obra Stieg Larsson de Jan-Erik Petterson (Companhia das Letras, 290 páginas).

Diferente de muitas obras biográficas publicadas nas últimas décadas, essa biografia não tem intenção de detalhar a vida íntima de Stieg Larsson. O autor buscou mostrar a vida de Larsson no âmbito social e principalmente político – seus trabalhos, suas influências e a forma de trabalhar – e como isso refletiu em seus livros. Os leitores que têm por hábito pesquisar a vida de seus autores preferidos já pôde perceber que muitos usam experiências vividas em suas obras, com Stieg Larsson não foi diferente.

Com um texto jornalístico, Petterson fez diversas entrevistas com amigos e parentes de Stieg Larsson e pesquisou muito sobre o trabalho de Larsson. Como em toda biografia, não faltou informações básicas como onde nasceu, viveu e estudou, mas todas as informações estão repletas de detalhes históricos da região e de como as pessoas viviam na região. Não faltam curiosidades triviais, porém são trivialidades interessantes sobre Larsson nessas partes, como o fato de que o nome de batismo era na verdade Stig e foi trilogia-millennium-saga-em-03-livros-de-stieg-larsson_MLB-O-3427360695_112012mudado anos depois por uma razão insólita: existia na mesma cidade outra pessoa com o nome Stig Larsson e sempre haviam confusões com os nomes (correspondências trocadas e acontecimentos que as pessoas achavam que um fez, mas na verdade era o outro). Dizem que um dia os dois Stig’s decidiram na moeda qual deles trocaria o nome e desde então o futuro autor policial se tornou Stieg.

Fã de ficção cientifica, Larsson chegou a criar uma fanzine (fanatic magazine, nome dado a revistas feitas por pessoas fanáticas por determinado assunto) sobre os livros do autor Isaac Asimov, um dos maiores autores de ficção cientifica do mundo. Também tinha paixão por livros policiais como Donna Leon, Dashiel Hammett, Raymond Chandler e Patrícia Cornwell (para citar os mais conhecidos no Brasíl). Toda essa paixão era cultivada desde a infância e nunca o abandou, o que explica o motivo de Stieg escrever livros policiais.

O autor aproveita a vida de Stieg para relatar momentos importantes da história da Suécia e do mundo. Larsson era um ativista político da esquerda comunista e sempre lutou pelos direitos humanos.  Ele também trabalhou arduamente em matérias sobre grupos neo nazistas na Suécia, principalmente quando fundou a revista Expo, onde ele e seus colegas foram ameaçados por facções nazistas por causa das constantes matérias-denúncias que eram publicadas no periódico.

Para mim as partes mais interessantes estão nos momentos em que vemos um Stieg Larsson ingênuo e altruísta. Como todo ser humano, Larsson também teve momentos em que acreditou em uma causa e foi ludibriado. Petterson relata um episódio na Etiópia e outro em Granada, na America Central. Em ambos os casos Stieg acreditava que os grupos revolucionários que se levantavam contra o povo seriam a melhor escolha para a população e os ajudou como pôde. No entanto, as lideranças revolucionárias de ambas as regiões não cumpriram o que declararam ao povo que faria ao chegar ao poder.

À medida que passamos as páginas, começamos a conhecer quem é Stieg Larson, o jovem que adora livros policiais, que possui imaginação, para logo depois conhecermos o poder que Stieg, o jornalista tem ao escrever um artigo. Larsson não se interessa em escrever para cobrir os espaços do jornal, mas quer usar as páginas dos jornais para que seus leitores percebam como é a Suécia e seus problemas e, assim, mudar o mundo.

Depois de ler todo o livro concordamos com a afirmação feita por Petterson nas primeiras páginas do livro: existe muito da vida de Larsson na série Millennium. Stieg não só escreveu algo sobre um jornalista que luta pelos direitos civis (como ele) utilizando da linguagem policial (o tipo de texto que ele é fã). Mas aproveita mais esse meio de comunicação para mostrar os leitores à realidade humana como tráfico de mulheres, estelionato e assassinatos.

Na minha opinião é uma biografia interessantíssima. Terminei o livro com vontade de reler toda a trilogia para conferir se as comparações do autor com alguns momentos da vida de Stieg estão corretas. Os detalhes históricos são ricos em detalhes e nos fazem conhecer uma parte da história que não aprendemos nas escolas e nos fazem conhecer sobre um país que conhecemos tão pouco.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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