Rio de Janeiro 19/5/2021 – Depois do cérebro, é no intestino que estão concentrados a maior parte dos neurônios
Novas evidências reforçam a importância da nutrição para diminuir males como ansiedade e depressão
Um estudo recente da Universidade de Manchester, no Reino Unido, revelou evidências de que uma dieta equilibrada reduz de forma significativa os sintomas de depressão. Feita com cerca de 46 mil pessoas, a análise do pesquisador Joseph Firth, publicada pelo Psychosomatic Medicine, reuniu ensaios clínicos de dietas e sua relação com a saúde mental. “Comer refeições ricas em nutrientes e fibras, reduzindo fast food e açúcar refinado, demonstrou ser suficiente para evitar o potencial negativo”, afirma Firth.
Na última década, médicos, nutricionistas e psiquiatras têm investigado com mais atenção o quanto hábitos alimentares contribuem para estados mentais. Vem daí, inclusive, uma área nova do conhecimento: a psiquiatria nutricional. De acordo com esses especialistas, a falta de nutrientes necessários para que o cérebro funcione corretamente tem levado a processos inflamatórios no sistema nervoso, o que pode gerar a morte de neurônios, facilitando o aparecimento de distúrbios mentais.
A ciência tem observado especialmente a ação de dois grupos alimentares: açúcares e gorduras. É com eles que se obtém a maior parte da energia, mas também são esses que, em excesso, causam desequilíbrios importantes no cérebro.
Para aliviar sintomas como cansaço, fadiga ou preocupação, o organismo pede uma dose de serotonina, conhecido como o “hormônio do prazer”, sintetizado no sistema nervoso central e produzido a partir da ingestão de açúcares e gorduras. Mas o consumo excessivo de glicose pode prejudicar o funcionamento do cérebro, e desencadear uma série de problemas de saúde. Ou seja, o mesmo agente da alegria é capaz de perturbar o organismo e, em um curto espaço de tempo, causar sintomas de depressão.
“Nossos estudos sugerem que a nutrição tem influência na saúde mental, e que médicos podem usar a dieta como uma forma possível de melhorar sintomas como depressão e ansiedade”, afirma Firth.
“Essa abordagem, ainda bastante recente dentro da medicina ocidental, é conhecida pela medicina tradicional chinesa e a Ayurveda há milhares de anos”, comenta Aline Fiuza, nutricionista carioca especializada na medicina milenar indiana. “Depois do cérebro, é no intestino que estão concentrados a maior parte dos neurônios. A Ayurveda trabalha a conexão entre esses órgãos e a saúde geral do corpo, incluindo as emoções e saúde mental”, diz.
A medicina indiana recomenda o equilíbrio entre os doshas, palavra em sânscrito que significa humor biológico, sendo que cada indivíduo apresenta um elemento dominante. “O desequilíbrio de Pitta, por exemplo, pode se manifestar no excesso de fogo, que é um indutor de ansiedade”, explica Aline. “É por meio dessa análise que conseguimos indicar dietas que colaboram para a cura de doenças físicas e mentais”, diz a nutricionista, que prepara cardápios para celebridades e pessoas expostas a situações de stress.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, calcula-se que mais de 300 milhões de pessoas no mundo vivem com depressão, doença que atinge mais mulheres que homens. No Brasil, 9,3% da população tem algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% dos brasileiros.