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Leia mulheres

Pensei em começar este texto de diversas formas. Me imaginei falando que os tempos são outros e as mulheres estão reivindicando o espaço devido à elas; também pensei em dizer que há décadas as mulheres lutam por direitos iguais aos homens; quase comecei afirmando a importância da militância feminista em todos os cenários sociais.

Desisti de todas essas introduções e decidi começar o meu post da seguinte forma:

  1. Qual o(s) seu(s) livro(s) favorito(s)?
  2. Qual o seu autor(a) favorito(a)?
  3. Dos livros que você leu este ano, quantos deles foram escritos por mulheres?
  4. Dessas autoras lidas neste ano (se você leu), quantas delas são negras, latinas, indígenas ou LGBTQIA?

No meio de 2018, as duas perguntas vieram à minha mente. Sou leitora ávida desde criança, porém somente aos 29 anos de vida, eu me questionei a respeito da presença da mulher na literatura. E te prometo, doeu. Apenas para clarificar, no meio de 2018, meus livros favoritos eram: Jane Eyre, de Charlotte Bronte; O amor nos tempos do cólera, de Garcia Marques; A caverna, de Saramago; Mulheres de Cinzas, de Mia Couto (tenho mais favoritos, mas a lista é longa). Meus autores favoritos são os citados acima, plus Agatha Christie, Hemingway, Dickens e alguns outros.

Das quatro obras citadas, três foram escritas por homens. O mesmo acontece com meus autores favoritos (até 2018), a maioria é (era) homem.

Eu entrei em profunda reflexão sobre isto quando me dei conta de que, em boa parte de minha vida, eu ouvi apenas a voz masculina na literatura. Li apenas o ponto de vista dos homens. Apreciei a escritura de autores homens, sem me dar conta do que as escritoras mulheres estavam falando, pensando, ou até mesmo clamando.

Passado o período de reflexão, fiz um desafio comigo mesma de ler somente livros escritos por mulheres, até o fim do ano de 2018, dessa forma, seriam seis meses ouvindo o feminino falar na literatura. Falando nisso, dá uma olhada no desafio que a Sarah fez (12 livros escritos por mulheres negras) Tirando os livros do mestrado, os quais a maioria é escrita por teóricos homens, cumpri sem grandes dificuldades o meu desafio literário. São eles:

  1. Poemas avulsos, de Maria Firmina dos Reis [e-book por R$ 3,13 na Amazon];
  2. Sejamos todos feministas, de Chimamanda Adichie [e-book gratuito];
  3. Três vezes Hilda: biografia, correspondência, e poesia, de Ana Lima Cecílio [e-book gratuito];
  4. Água funda, de Ruth Guimarães;
  5. As meninas, de Lygia Fagundes Telles;
  6. A bolsa amarela, de Lygia Bojunga Nunes.

Em janeiro eu reli um favorito meu, Jane Eyre, escrito por Charlotte Bronte, e depois voltei a ler livros escritos por homens.

É importante enfatizar que não vou parar de admirar meus escritores favoritos e, também não vou deixar de ler obras escritas por homens. No entanto, é igualmente necessário que as pessoas leiam mais obras de autoras. Maria Firmina dos Reis, por exemplo, é considerada a primeira escritora romântica do Brasil. Mulher negra, nordestina, contemporânea de Machado de Assis. Alguém já ouviu falar nela? Se já ouviu, já leu algo dela?

Fica a reflexão. E fica, da mesma forma, o pedido: leiam obras de mulheres!

PS: Sobre este assunto, sugiro o filme A esposa, protagonizado por Glenn Close, e indicado ao Oscar 2019.

Liv
Mestranda em Literatura e Crítica Literária. Me considero uma pessoa multipotencial, com gostos e interesses diversos. Mudo de trabalho, troco de bairro e deixo amigos de lado, mas livros e literatura nunca saem da minha vida.

5 thoughts on “Leia mulheres

  1. Legal o post. Em março, por ter sido o mês das mulheres eu me propus a ler somente mulheres. Foi bem constrangedor perceber que eu não lia tantos livros escritos por mulheres, a menos que fosse de forma deliberada. Por outro lado, me surpreendi positivamente ao constatar que a distribuição de livros na minha estante entre escritores homens e mulheres não é tão gritante assim, e que tem diminuído cada vez mais a diferença.

  2. Bom, vamos lá! Em março li “Um teto todo seu” – Virginia Woolf, “Árvores Tímidas: um livro sobre transtorno bipolar” – Bia Ribeiro, “A Livraria” – Penelope Fitzgerald, “O que aconteceu com Annie” – C. J. Tudor, e “Muitas águas” – Madeleine L’engle… e terminado o mês de março, ainda ficaram algumas leituras que não consegui fazer em março, mas fiz agora em Abril: “Persépolis” – Marjane Satrapi e “Para Educar Crianças Feministas” – Chimamanda Ngozie Adichie 🙂 foi indescritível ler tantas mulheres incríveis!

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