O Anexo

“Como terá sido a libertação quando veio? Antigamente eu tinha uma imagem dela. O barulho dos passos na escada. A sensação do ar no nosso rosto e o badalar dos sinos. Todo num carrilhão – as palavras que Margot empregava. Na minha imagem, as folhas caiam sobre nós, feito confete, e erguíamos os braços no ar e caíamos no chão ou saltávamos no canal. Abraçávamo-nos e corríamos; corríamos pelas ruas, pelos becos. Gritávamos muito”. (página 227)

Já tive oportunidades mas nunca cheguei a ler mais do que alguns trechos do Diário de Anne Frank, tudo bem que todas essas oportunidades me foram dadas (ou de certa forma, obrigadas) enquanto era um simples estudante, e sim, desperdicei todas elas por simples preconceito, como já disse antes, meu vício por leitura é relativamente recente. Hoje eu teria aproveitado cada oportunidade, e o Diário de Anne Frank esta entre minhas próximas leituras a algum tempo.

O Anexo é uma obra ficcional, onde a autora usou como base O Diário de Anne Frank e fez isso de uma forma que fez minha vontade de ler a obra original aumentou exponencialmente. Não irei comentar sobre as barbáries cometidas durante a 2ª Guerra Mundial, afinal, não sei se teria estômago para tal, prefiro manter meus comentários sobre os personagens e seus sentimentos durante esse duro período, que é o que a autora nos apresenta durante toda a primeira parte do livro.

“Você sabia, garoto. Sempre soube. De certo modo, mesmo então, você sentia.
O Medo
Pode ser que eles consigam nos apagar da face da Terra.
Pode ser que suprimam nossa história com a facilidade com que esvaziam nossas casas.
Mas, mesmo assim, é dificil acreditar que eu tenha vivido sua vida um dia.
Você realmente foi eu um dia?
E eu, você?” (Página 102)

O livro tem uma linguagem simples e apesar da trama ser “barra pesada” a leitura flui de uma forma muito rápida, realmente não esperava isso, imaginava que demoraria muito para ler o livro, o que de certa forma acabei fazendo na reta final. Apesar de não ter lido O Diário de Anne Frank, eu sei o seu final e estava com medo de prosseguir a leitura, até o momento nenhum livro me proporcionou essa sensação, os medos dos personagens foram transmitidos de tal forma, que se tornaram meus.

“(…)Se o prédio pegar fogo, pegou, e seremos obrigados a sair daqui. A nos expor. Não sei se vou fingir ser alemão. Fingir? Como assim? Eu sou alemão, não sou? Que loucura é tudo isso. Como é difícil, atualmente, elaborar até mesmo as coisas mais simples.” (Página 157)

A história é narrada através da visão de Peter Van Pels, uma das 8 pessoas que estavam escondidas no anexo. No livro, Peter e Anne se envolvem em um romance, um tanto inocente diga-se de passagem, mas realmente torcemos para isso tenha acontecido, afinal são jovens e tiveram toda sua vida arrancada de suas mãos para se tornaram prisioneiros, escondidos, lutando para sobreviver, tentando manter, na medida do possível, a normalidade.

“Anne, sei que você não teria reparado em mim se nós não estivéssemos presos aqui.” (…)

“Ah Peter! E pode ser que eu nunca tivesse reparado no quanto uma árvore é impressionante, ou um pedacinho do céu. Eu seria uma pessoa diferente. Provavelmente, pior! Nem sempre me orgulho da pessoa que eu era, Peter.” (Página 161)

Impossível não se identificar com as dúvidas que cercam Peter, perceber seu crescimento e amadurecimento durante esse tempo que passou escondido, o mesmo acontece com os demais personagens e vivenciamos seus momentos de revoltas as suas dúvidas e principalmente os seus sonhos.

Livros que tratam desta temática, assim como filmes, costumam ser extremamente emocionantes e revoltantes, com O Anexo o sentimento não foi diferente, é impossível visualizar algo inimaginável como o holocausto, mas como Anne disse, as palavras não serão esquecidas e as idéias nunca poderão ser apagadas.

Por Júnior Nascimento

Colaborador Beco das Palavras
Os textos publicados aqui são produzidos por colaboradores diversos. Cada teto é assinado com a pessoa que produziu o conteúdo e os enviou de forma espôntanea para o Beco das Palavras.

Deixe uma resposta