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Mary Poppins – Quando a autora é o oposto de suas obras

Para muitos Mary Poppins é um clássico que marcou suas vidas. Não tanto pelo livro (que só foi lançado em português em 2014 pela Cosac Naify) mas pelo premiado filme da Disney que cativou, e ainda cativa, milhares de pessoas no mundo inteiro.

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As ilustrações do livro original são todas de autoria da artista gráfica Mary Shepard.

Apesar de se basear em uma obra literária, Mary Poppins no filme é uma personagem bem diferente da existente no livro, como a Lívia relatou em seu texto alguns anos atrás aqui no Beco das Palavras. No livro a babá com poderes mágicos é cínica, chegando a ser bem ríspida com as crianças em muitos momentos. A medida que o livro avança, percebemos que Poppins não sorri quando está com as crianças. Já em seu dia de folga, longe das mesmas, ela se mostra uma pessoa mais agradável e polida.

Mas existem fatos mais decepcionantes. Para mim, descobrir a vida da autora P.L. Travers foi mais um balde de água fria que me fez desistir dessa obra. O grande motivo está relacionado à sua vida pessoal e decisões egocêntricas tomadas pela autora que podem ter destruído duas vidas.

Gostaria muito que a autora não tivesse optado por essas decisões ou, pelo menos, não as tivessem feito da forma como a fez. Realizar sonhos é o que todos nós desejamos, porém, o fazer implicando em separar famílias sem se importar me faz acreditar que ela não prega aquilo que escreve, ainda mais quando tanto seu trabalho quanto suas decisões envolvem crianças.

Adoção e Rejeição

O sonho de Travers era ser mãe. Para realizar esse sonho, como uma mulher solteira, rica e famosa pelas obras que lançou, ela optou pela adoção. Travers morava na Inglaterra e decidiu que seu filho fosse irlandês (país onde seu país nasceu), e foi para lá que ela buscou a criança para chamar de sua.

Uma família irlandesa muito pobre passava por dificuldades e os avós, já de idade avançada, eram guardiões dos gêmeos Camillus e Anthony. Como era uma família conhecida por Travers e a mesma buscava adoção rápida e fácil, os avós pediram para que ela adotassem os seus gêmeos.

Mas por um motivo egoísta, Travers estava decidida a adotar somente uma criança e se negou a pegar as duas. Para resolver suas dúvidas de quem adotar, a autora consultou sua astróloga para saber qual das crianças ela deveria criar. Foi assim, pelas estrelas, que dois irmãos foram separados e tiveram vidas bem opostas uma das outras: Camillus foi viver uma vida de luxo e Anthony permaneceu na pobreza.

Travers nunca contou a Camillus que ele era adotado. Anthony pelo contrário sempre soube a verdade e quando se tornou adulto foi procurar o irmão gêmeo para conhecê-lo. O que gerou grande desconforto junto a Travers, que entou enxota-lo de sua casa quando ele apareceu, pois queria evitar que Camillus o visse.

Feridas criadas pela decisão

Sim, a decisão de Travers foi egoísta, e gerou feridas muito mais profundas do que se pode imaginar. Irmãos possuem um elo familiar forte, e gêmeos acabam tendo esse elo mais forte. Ao separar as crianças, as duas passaram a ter vidas completamente diferentes, o que gerou um abismo enorme entre os dois.

Apesar dos laços sanguíneos e familiares terem sido quebrados, ao tomar a decisão de separar as crianças, Travers criou um sentimento de rejeição em Anthony que jamais poderemos mensurar. Ele foi criado na pobreza, sabendo que tinha um irmão que estava sendo amado e criado com as melhores coisas. Imagine como uma criança pode se sentir sabendo que não é suficiente especial para ter esse mesmo tipo de vida, imaginando o que o irmão possuia que ele não a ponto de ser rejeitado pela outra família.

Durante toda sua vida, Anthony mencionou sobre seu irmão rico, o que reinforça o abismo emocional que Travers causou em sua vida ao separar os irmãos. Anthony era um homem inteligente, mas essa situação pode ter sido o gatiho para que ele se tornasse alcoolatra, situação que o fez perder o emprego de relações públicas e falecer aos 65 anos com o fígado completamente destruído pela bebida.

Ruína de Camillus

Assim como seu irmão, Camillus era uma garoto inteligente, mas também muito problemático. Ao descobrir a verdade sobre seu irmão, Camillus se aproximou do irmão, mas aos poucos foram se distanciando. Mas descobrir que viveu uma vida de mentiras o afetou bastante.

Os irmãos não tinham nada em comum fora do fato de adorarem beber. Após descobrir sobre seu irmão gêmeo Camillus passou a tomar várias más decisões, chegando a ser preso por dirigir alcoolizado. Foi nessa época que Travers finalmente decidiu vender os direitos de Mary Poppins para Walt Disney, situação que a Yoko comentou em seu texto Para Walter. Enquanto Travis estava em Nova York trabalhando no roteiro, Camillus estava em Londres cumprindo pena.

Desde então Camillus não fez muito por si. Viveu da fortuna conquistada pela mãe diante dos direitos do filme Mary Poppins. Embora não fossem próximos, Camillus pagou pelo funeral de seu irmão Anthony. Mas pouco falava dos problemas com a mãe e sobre a situação com seu irmão Anthony.

Eu não terminei o livro Mary Poppins. Após descobrir essas informações me senti triste. Já estava desanimada com a leitura ao ver que a Mary Poppins do livro não é a personagem que esperava, e nem a que eu desejava para minha família.

Porém, esse ano será lançado um novo filme sobre os livros, agora com Emily Blunt como estrela principal. Para quem ainda gosta das histórias da babá, veja o trailer abaixo:

 

Para saber mais detalhes sobre essa história, clique aqui.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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