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A Travessia

Todo mundo quando cresce aprende que o dinheiro move o mundo, comprando belos carros, apartamentos confortáveis e o respeito das pessoas.  Mas algumas pessoas se iludem que isso comprará também o amor de qualquer um e, até mesmo, a felicidade eterna. Na maioria das vezes, a pessoa que segue uma meta de vida como esta em alguém solitário e amargurado.

Foi este o plano traçado pela personagem Anthony Spencer em A Travessia (Ed Sextante, 240 páginas), escrito pelo aclamado autor William P. Young, autor do Best-seller mundial A Cabana.  Anthony perdeu os pais quando era criança e viveu anos em lares adotivos. Ao crescer se tornou um homem rico e poderoso, mas transformou seu coração em uma pedra, onde nenhuma pessoa, nem mesmo sua família consegue quebrar. Egocêntrico e ranzinza, Anthony tem como prioridade estar acima de todas as pessoas e não aceita perder. Após seu casamento terminar, não mediu esforços para reconquistar sua esposa novamente, tudo isso para depois se divorciar novamente e deixa-la arruinada financeiramente.

Anthony não confia em ninguém e não acredita em Deus ou em perdão, somente do dinheiro e no poder que possui. No entanto, após sofrer um derrame cerebral, Anthony se encontra entre a vida e a morte e descobre que suas crenças estão erradas: Deus realmente existe e ainda tem esperança em resgata-lo. Para isso, Anthony se vê em uma jornada onde irá conhecer Jesus Cristo, o Espírito Santo e um homem muito simpático chamado Jack.

Durante a história Anthony irá perceber que seu coração se tornou um lugar sombrio e destruído devido as decisões que tomou na vida. À medida que vai percebendo seus erros, Anthony se desesperada, pois suas metas estavam focadas em uma vida onde não existe nada após a morte. Anthony ainda terá a oportunidade de fazer uma boa ação antes de morrer: poderá escolher uma pessoa que será curada. Mas antes da escolha, Jesus irá apresentar a Anthony algumas pessoas para ajuda-lo a escolher.

A história de A Travessia não é muito diferente de A Cabana, a diferença está nos objetivos. Ambos terão um homem cético tendo uma experiência com Deus, mas enquanto em A Cabana existem os questionamentos bíblicos sobre o modo de agir de Deus e o livre arbítrio, em A Travessia vamos conhecer como Deus trabalha para ser aceito pelas pessoas como Deus e Salvador. A proposta do livro está mais em perceber que, mesmo sem alguma tragédia em nossas vidas, as pessoas se distanciam de Deus, às vezes o ignoram, mas Deus sempre continuará tentando nos resgatar.

Durante toda a leitura, houve dois momentos que me marcaram e um que me desagradou. Não que o livro só seja bom em dois momentos, mas foram duas partes em que mais me identifiquei com o autor. É um pouco difícil achar palavras para explicar, mas tentando resumir e ser o mais clara possível, nestes dois episódios identifiquei parte de meus gostos e pensamentos, ambos bem fortalecidos e que representam muito a pessoa que sou hoje.

O primeiro está relacionado a um personagem nada fictício na história, que acaba sendo chamado de Jack da Irlanda. Logo na primeira aparição comecei a desconfiar que essa pessoa não me era estranha, e pude confirmar isso nas linhas seguintes. Jack é o apelido de um autor muito conhecido, que amava as histórias de fantasia. Ele foi o primeiro a ler o Senhor dos Anéis, antes mesmo da obra ser publicada e deu total apoio ao seu grande amigo de continuar escrevendo a obra. Por muitos anos foi ateu, mas se tornou cristão graças ao empenho de seus amigos, entre ele o mesmo que deu a obra citada neste parágrafo para que o lesse. Poucos descobriram que o “Jack” do livro, é na verdade C.S. Lewis, um dos nomes mais influentes no cristianismo e autor de diversos livros obre o cristianismo e de fantasia.

Para mim Lewis é um autor muito querido, suas palavras me confortaram, divertiram e esclareceram diversas vezes. O nível de amor o leitor do beco pode medir pelas minhas próximas férias: Irei para Cambridge e Oxford, as duas cidades que abrigaram as universidades que o C.S. Lewis trabalhou como professor. Gostei muito da forma como o autor inseriu Lewis na obra e, embora seja uma introdução curta, muito bem colocada, sem exageros ou sem sentido.

A segunda parte foi uma passagem sobre interpretação bíblica. Como cristã tenho plena consciência de que muitas pessoas possuem um entendimento errôneo do que está escrito na bíblia. Enquanto alguns interpretam somente um versículo, ignorando todo o texto que o precede e procede, mudando o raciocínio que ali existe, outros distorcem de acordo com sua conveniência. O exemplo usado pelo autor é um dos mais distorcidos – a questão da submissão.

A submissão da esposa diante do marido tem sido distorcida, chegando ao ponto de algumas pessoas usarem isso como justificativa para crimes como espancamento e até morte. Várias vezes ouvi pessoas declararem que a mulher deve obedecer piamente ao esposo e que o homem manda na casa e a mulher obedece utilizando passagens bíblicas soltas ao léu como justificativas. Young utiliza um verso do livro de Coríntios como exemplo do abuso de autoridade com embasamentos mal utilizados. Pouquíssimos autores têm coragem de falar sobre o assunto e o autor soube fazê-lo primorosamente.

A única coisa no livro que não me agradou muito foi a forma como Anthony irá tomar sua decisão. Para mim foi algo muito forçado, onde Deus não dá alternativas para que outra decisão fosse tomada. Acredito sim em destino, mas acredito que o livre arbítrio está em um nível hierárquico superior. Mas tratar de livre arbítrio e destino são questões delicadas e que podem provocar discordâncias. Nesse ponto, a forma como o autor tratou foi inteligente, mas para mim se tornou um pouco forçada.

Mas nem mesmo por esse detalhe, o livro deixa de emocionar e muito menos de falar sobre Deus de forma tão clara. Com uma narrativa bem objetiva, William P. Young conseguiu, mais uma vez, encantar leitores e falar de sua fé de uma maneira única, esclarecendo as dúvidas de milhares de pessoas sobre dogmas e dúvidas sobre fé e o agir de Deus na vida dos homens que poucos autores conseguem.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

One thought on “A Travessia

  1. A Cabana é um livro maravilhoso, esse livro mudou minha vida. Não sabia que tinha outro livro lançado, tenho certeza que será ótimo, assim como foi o primeiro.

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