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As Histórias que me ensinaram a viver

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O que se pode esperar quando não está esperando?

Tudo isso foi um relato de uma tarde inteira, a minha amiga vem de um lugar em que as relações estão em primeiro lugar, preza-se muito o companheirismo, o compartilhamento. Foi quando nos encontramos e fomos tomar um café, ela adorava esses ambientes, na cidade onde mora atualmente é cheio deles. O local é ideal para uma tarde tranquila de conversas produtivas, o clima na região está bem quente, mas,  não era um problema, havia os cafés gelados, receitas bem encorpadas que adorava, até eu mesmo nunca tinha bebido, foi o primeiro dia, minha primeira vez,  estranho pela falta de costume, mas,  foi uma experiência agradável, deliciosa.

Judy estava ansiosa para a próxima leitura do livro, aguardava os releases dos lançamentos no seu e-mail e, pouco tempo depois, a sua amiga,  a Li, vem com uma sugestão – “Judy, o que você acha desse livro aqui?”  “As Histórias que me ensinaram a Viver” – Jorge Bucay (ed Sextante).

Ao ler a indicação,  Judy confessa que ficou um pouco ressabiada, sim, um pouco, pois a mesma adota uma filosofia na vida que,  “é sempre bom e por vezes necessário jogar um novo olhar sobre as situações”, mas, a verdade é, jogou um olhar preconceituoso sobre a indicação,  o título pareceu sugestivo para uma autoajuda. Logo ela, que já é acostumada a ler alguns títulos de filosofia e psicologia e com leituras, vamos assim dizer, “pesada”, que são referências em sua área, titubeou com o e-mail recebido. No entanto, como tem um espírito livreiro, sabe que é necessário ler de tudo, o que há de ser bom e ruim definido fora do conjunto,  “gosto e costume”, pode ser surpreendente, não descartando o aprendizado e a experiência que se pode alcançar com os opostos.

É aí que a mesma Judy tem algo a nos dizer sobre a leitura, até onde tive certeza,  foi contrariada, fiquei sabendo que já fez várias indicações do livro para amigos próximos.

Começando pelo autor, a editora sextante trabalha mais com autores americanos, o Jorge Bucay, é Argentino, um Hermano, um latino, formou-se em medicina, atuante na psicologia, seguindo a linha gestáltica; já veio ao Brasil para lançamento de livros de sua autoria e para ministrar palestras sobre relacionamentos, uma das suas especialidades. Dentro da obra, podemos ter a percepção que os relatos, em  muitos, fazem parte da vivência do autor.

Judy também me contou que,  Jorge Bucay por ser  argentino, acreditava que ele tenha lido Jorge Luís Borges, afinal, era  seu conterrâneo.  Judy, que já tinha essa premissa dentro de si que deveríamos olhar mais para a nossa região, nossas histórias, criarmos e solidificarmos  mais as nossas identidades, sabemos muito o que é europeu e americano. Mas… e nós? Quem somos? Nossas forças, nossas histórias, nossas latinidades…

Daí em diante a visão sobre o livro ficou mais sólida, era necessário priorizar a leitura desse livro naquele momento, uma coisa ela já sabia, que na América Latina tínhamos grandes literatas e que o próprio povo desconhecia a dimensão do que possuíamos em casa. A experiência que teve quando trabalhou em uma rede de livrarias confirmou a sua observação: os clientes entravam à procura de literaturas estrangeiras, diga – se de passagem, americanas, quando a mesma levantava questões junto à clientela sobre nossos autores nacionais e seus respectivos escritos, o público desconhecia ou não gostava, contudo, o não gostar,  era porque não entendiam e também, determinadas literaturas não eram bem difundidas.

Agora,  Judy,  sente um ímpeto, uma força, porém,  colocou algumas ressalvas ao contar-me tal experiência. Ficou extremamente chateada pelo comparativo que fizeram com Jorge Bucay e Paulo Coelho,  confirmando suas teorias sobre como as pessoas absorvem o que leem, constata que,  realmente há um déficit quando se lê, a forma como se interpreta, ela me disse da ansiedade, das manias que se vive hoje, onde, uma delas, é colocarem rótulos. Mas, pode até ser que tenham razão, pois, tudo depende da imagem que se passa e a questão do julgamento no juízo final. Às vezes, pode ser o foco da editora, que se firmou mais no caminho da autoajuda, por isso, as pessoas serem conformistas, não enxergarem outros ângulos. Só esclarecendo o que ela me passou, nada contra o brilho do Paulo Coelho, é que a linha é outra.

Os momentos que vivemos no mundo de hoje apresenta fragilidade nas relações, ninguém quer ter paciência para olhar dentro de si e só acusar e julgar ficou muito fácil, a culpa é sempre do tempo, do outro, das profissões, dentro de nós, há feridas que necessitam ser curadas e obstáculos a ultrapassar, temos que nos permitir a voltar o olhar para dentro de nós, mas a era em que vivemos é a exaltação do ego, o narcisismo nas redes sociais, o tempo de agora é o culto às máscaras, levando em consideração as problemáticas atuais o livro cai bem.

O autor trata as questões mais latentes vividas no cotidiano, a abordagem é em tom de diálogo entre os personagens centrais, o Jorge, terapeuta e o Demián, paciente, cheio de conflitos, onde, o maior deles é o sentimento de rejeição, a tônica desenvolve-se dentro do consultório, quando Demián chega sempre cheio de questionamentos sobre as relações que vive com os pais, namorada, amigos, a profissão e os estudos, mas, a forma como o Jorge, levanta tais questões com o seu paciente, essa sim, é a diferença, o incentivo ao Demián  para procurar a sua independência em relação aos sentimentos.

As terapias, estão carregadas de momentos motivacionais e inspiradores, quando, Jorge  conta  fábulas, estórias, levando o Demián, ao final, ter o seu próprio momento de raciocínio para encontrar a melhor saída durante a sensação das angústias cotidianas, favorecendo o seu próprio crescimento e despertando para expulsar tudo o que causa o mal, não permitindo mais ao autoflagelo. Ao passar a enxergar as raízes e sabendo enfrenta-las, Demián, sente que é hora de alçar voo, como estivesse dizendo para si mesmo que,  agora sim, “estou pronto para a vida”

Judy  empolgou-se ao  relatar – me  sua leitura e me disse ainda que, o mais  importante é explorar novos caminhos, deixarmos de sermos preconceituosos com o que a mídia rotula. A leitura é uma grande aventura  e a cada dia que Demián e Jorge se encontravam para uma sessão de terapia, era um momento em que Judy vibrava, pois, dali,  sabia que iria retirar algum ensinamento para si mesmo ou para esperar algum amigo em momento sensível e emprestar o seu ombro, contando assim algum conto extraído do terapeuta Jorge, ou, talvez,  seria mesmo  de um personagem citado, inicialmente  no livro, chamado Farash?

 

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

One thought on “As Histórias que me ensinaram a viver

  1. O livro é bem interessante. As histórias ali fala de coisas que acontecem a qualquer um. Vale a pena ler.

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