Argo

argo450Nos tempos atuais, quase sempre que ouvimos nos jornais alguma informação sobre o Irã está envolvendo tensão entre este país e os EUA. Que os países não se dão bem todos sabem, mas poucos conhecem os motivos.

Entre as décadas de 40 a 70, o Irã era governado por um xá (título do monarca, rei), Mohammad Reza Pahlavi . o governo do xá Reza Pahlavi possuía fortes laços com os Estados Unidos, que na época, buscou ajudar o xá a se manter no governo com intenção de manter negócios na área petrolífera e, principalmente, aliados na guerra fria.

Mas o que Pahlavi também fez foi tentar “ocidentalizar” o Irã, onde buscou trazer conceitos e um modo de vida mais ocidental. Essa mudança começou na área judicial, escolar e até política, onde as mulheres conquistaram o direito ao voto, mas não ficou somente nisso, o poder das igrejas foi limitado.

Como em qualquer reforma, houve oposição de alguns grupos às reformas. Com o passar do tempo, o xá começou a utilizar sua guarda para acabar com os opositores. Um dos principais opositores ao governo de Reza Pahlavi era aiatolá Ruholah Khomeini. Khomeini se exilou em Paris e de lá manteve a oposição ao regime iraniano durante anos.

A revolução alcançou seu objetivo em 1979. Reza Pahlavi fugiu do país e Khomeini retornou e criou a República Islâmica do Irã. O Irã foi um dos primeiros países e se tornar uma república islâmicas (a maioria dos países são laicos, ou seja, não está sujeito à uma religião). Nesse mesmo ano, os Estados Unidos já não era bem visto por ter relações próximas ao xá, acabou revoltando todo o país ao abrigar Pahlavi. A ira provocou uma invasão de estudantes iranianos à embaixada americana na capital Teerã, e se tornou o sequestro mais longo que já aconteceu em uma embaixada no mundo, onde 52 americanos ficaram 444 dias presos.

Mas para a surpresa de muitos, 06 americanos conseguiram fugir da embaixada no dia da invasão. Correndo risco de vida e não tendo como fugir do país, A embaixada do Canadá escondeu os fugitivos e buscou junto aos EUA uma maneira de tira-los do Irã em segurança. E foi para salvar essas pessoas que a operação Argo foi criada. O nome dá título ao livro, Argo (editora Intrínseca, 256 páginas). Escrito por Antônio Mendez e Matt Baglio, a obra é um relato de como o Mendez, ex-agente secreto da CIA, teve a ideia e montou todo o estratagema para a retirada dos seis diplomatas escondidos no Irã.

Para conseguir resgatar os americanos em segurança e sem causar uma guerra, Mendez teve a ideia de utilizar Hollywood como álibi. A ideia foi criar uma produtora de filmes que estaria em busca de locações para um filme de ficção científica. O Irã seria o local preferido devido as belas paisagens desérticas e por isso os produtores foram visitar o país.

No livro temos um relato bem detalhado de como foi o trabalho da CIA para retirar esses americanos do Teerã. Mendez conta como a agência de inteligência americana lidou com a situação dos reféns desde o sequestro, e seu empenho em encontrar uma solução. Todas as ideias propostas pelos agentes são comentadas no livro, desde enviar um carro para atravessar o deserto de madrugada, fazer os fugitivos se passarem por professores em busca de emprego, até matar o xá e resolver o problema pela raiz. Depois de ler sobre cada ideia que existiu, percebi que inventar um filme não era a mais louca. Embora tenha sido a mais trabalhosa o autor explica que a ideia de Argo era que seria mais fácil de realizar por ser a mais fácil de se confirmar. Se decidissem inventar a morte do xá, alguém poderia querer ver o corpo (que não existiria) e as chances de desconfiarem de professore desempregado era enorme pois as escolas estrangeiras foram fechadas em todo Irã.

Todos os detalhes para que a missão fosse bem sucedida são relatadas passo a passo, eles tiveram também ajuda de famosos da indústria cinematográfica, que tornou a história mais crível. Achei muito interessante saber os detalhes de concepção e montagem de um trabalho que só podemos imaginar como é, já que o cinema sempre fantasia sobre a função com seus agente secretos.

O livro desmistifica muito o perfil e trabalho dos agentes secretos, mostrando que são pessoas com habilidades específicas e detalhistas. Mendez relata que alguns dos primeiros agentes secretos eram vigaristas, falsificadores e outros mágicos e suas funções eram exercer esse trabalho mesmo, enganar, falsificar e fazer ilusionismo. O próprio autor usa a palavra “enganação” ao falar da operação argo, e argumenta que isso era o que realmente deveriam fazer: enganar as autoridades iranianas a deixar passar seis pessoas com documentos falsos.

Ao contrário do filme, o intuito do livro não é fazer um drama com final feliz. Mas contar com detalhes como foi criada e executada a retirada do grupo. É claro que Mendez não deixou contar como os diplomatas conseguiram fugir e como foram seus dias escondidos, mas ele não o faz usando os artifícios hollywoodianos que aumentam a tensão. Nem por isso chega a ser uma leitura maçante, muito pelo contrário, é um relato gostoso de ler, que deixa o leitor curioso para saber mais detalhes de cada decisão e como eles conseguiram sair do Irã.

Outro ponto que gostei do livro está nas informações sobre a ajuda canadense sobre o assunto. Muitos criticaram o filme sobre a forma como excluem o governo do Canadá na operação, deixando toda a glória para a CIA, mas no livro relata o contrário. Mendez em diversos momentos fala que ficou espantando com o país vizinho, que era mais ágil nas soluções. Um dos exemplos citados foi a questão de passaportes para os fugitivos. Enquanto os americanos estavam pensando se seria prudente pedir aos canadenses passaportes falsos para retirar os americanos e como poderiam fazer isso, o congresso do Canadá já haviam votado e aprovado uma medida extraordinária autorizando a utilização de nomes falsos para os seis fugitivos serem resgatados. Quando os americanos foram pedir autorização os documentos já estavam emitidos.  Além desse, existem outras situações que os canadenses deram um show e se mostraram exemplo a seguir.

o livro está repleto de informações sobre os equipamentos, disfarces usados e comentários de outras operações feitas pela CIA (todas com nomes fictícios) e como foram solucionadas.  Recomendo o livro para aqueles que gostam de história do mundo e história de espiões. Quem adora esmiuçar detalhes sobre técnicas de agentes secretos, vai adorar esmiuçar detalhes de fugas e disfarces feitos sob medida com uma história muito bem feita para enganar qualquer um.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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