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Solidão Continental

Todo mundo já passou por momentos de solidão na vida. Sejam breves ou longos, esses períodos da vida costumam ser dolorosos, às vezes ao ponto de e entrarmos em um mundo de fantasia, onde sonhamos com o passado, presente e até mesmo o futuro. Com esses mesmos artifícios, o autor João Gilberto Noll escreveu Solidão Continental (ed Record, 128 pág), seu último trabalho para o público adulto.

O livro nos apresenta como personagem João, um homem de meia idade passando por um momento onde passa a andar por aí, ao que parece sem sentido. Sabemos que é professor para estrangeiros e, de início vive nos Estados Unidos, mas está voltando para Porto Alegre. Em todas as cidades que passa João irá misturar as memórias que possui de seus amantes, intercalando-os com os sentimentos que as situações atuais o proporcionam.

A personagem tem uma sexualidade bem ativa, existem algumas cenas de sexo no livro, que reforçam ainda mais a vida solitária que João vive. A cada página lida o leitor vai sendo levado a conhecer um personagem cuja tristeza (mesmo que não seja declarada no livro) é decorrente de não ter ninguém a quem amar. Em alguns momentos percebemos a imaginação de João levar a situação para uma situação irreal. Às vezes é até mesmo difícil de distinguir o que é real e o que é criação da cabeça de João.

Enquanto lia, o livro me incomodou. Cheguei a pensar que pudesse ser pelo teor sexual, mas ao chegar nos últimos capitulo comecei a perceber que é mais pelo fato da história retratar uma situação que todos nós temos medo de viver: estarmos sozinhos, sem ninguém a quem possamos amar. Pois é sobre isso que o livro fala, a falta de alguém para amar e não de ter alguém para nos amar. Esse é um tema pouco usado na literatura, geralmente o contrário é o mais escrito.

O autor conseguiu prender minha atenção. A história é maravilhosa e me fez pensar sobre a situação de João em diversos momentos. Não importa onde moramos, se não temos a quem amar, de que adianta estar em Miami, Paris ou qualquer outro lugar paradisíaco? E não importa as oportunidades que tivemos no passado, precisamos achar um meio de não perdemos esse amor, ou não lutarmos para termos um.

O que mais me surpreendeu na obra foi a forma como foi escrita, em alguns pontos bem poética, com um ritmo maravilhoso que faz a história ser lida no tom certo. São poucos os autores que conseguem escrever uma obra dessa forma, fazendo o leitor ler em um ritmo mais lento, nos fazendo degustar cada frase escrita. A autora que João Gilberto Noll mais se assemelhou, na minha opinião, foi Clarice Lispector. Solidão Continental teve o mesmo impacto que A Paixão Segundo GH teve quando o li (fica a dica para quem é fã de Clarice).

Após ler somente uma obra de João Gilberto Noll entendi porque ele é tão premiado (é vencedor de cinco jabutis, além e outros prêmios) e tão procurado pelos leitores. Não vemos seus livros sendo indicados na TV, pois não é necessário. Em poucos dias lançado, um bom livreiro percebe a pilha de Solidão Continental desaparecer em poucos dias.

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

3 thoughts on “Solidão Continental

  1. Acho que personagem representa bem o modo de viver, os costumes e valores da nossa cultura recente onde as interações entre as pessoas são em sua maioria utilitárias e superficiais e produzem a ilusão de que as pessoas estão mais livres e felizes, mas a verdade é que as pessoas estão cada vez mais terrivelmente sozinhas.Deve ser um livro bem interessante, pois o tema e o problema que apresenta é bem atual.

  2. É bem isso Vanessa. Hoje a maioria das pessoas não querem constituir família, ter laços com as pessoas. Mas ao mesmo tempo que essa “liberdade” nos garante alegria de termos quem quisermos e o que quisermos, nos deixa solitários.

    E isso não importa se é no Brasil ou em qualquer país. Os relacionamentos estão banalizados, ou melhor, esquecidos.

  3. Muito legal o post, achei o blog pesquisando algo para dar para um amigo, acho que esse será perfeito.

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