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Eu não vim fazer um discurso

Me sinto um ser minúsculo tentando descrever um dos maiores e melhores romancistas do século XX. Como falar do escritor de um dos meus livros favoritos? Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1982, autor de Cem anos de solidão (livro pelo qual esteve em seu pensamento por dezenove anos), amigo de autores como Pablo Neruda?

Sim, estamos falando do colombiano Gabriel García Marquez, autor de Cem anos de solidão, Crônica de uma morte anunciada, Amor nos tempos do cólera. Este último faz parte das minhas obras favoritas e é um livro que fala muito de Marquez como um escritor jornalista, aquele que mostra as deficiências e qualidades da nossa sociedade e das pessoas.

Após tentar explicar o mínimo sobre a beleza do trabalho de Marquez, podemos falar sobre Eu não vim fazer um discurso, obra que reúne vinte e um discursos de várias épocas e lugares diferentes falados por ele. O mais intrigante destes discursos é que vemos muitas referências de Gabriel de que ele não gosta de discursar:

“ Confesso que fiz o possível para não comparecer a esta assembléia: tentei ficar doente, busquei um jeito de conseguir uma pneumonia, fui até o banheiro com a esperança de que ele me degolasse e, no final, tive a idéia de vir sem paletó para que não me permitissem entrar numa reunião tão formal como esta.”

Me pergunto por que razão o ganhador do Nobel teria medo ou desgosto por discursos. Por que é tão aterrorizante para o escritor de um livro que demorou mais de dezenove anos para ser formulado, discursar sobre temas pouco significantes em um púlpito? Ele próprio responde no primeiro discurso que lemos, nas linhas iniciais:

“Eu não vim fazer um discurso.”

Diante desta frase tão contraditória, posso dizer que este livro transcreve não discursos, mas reflexões sobre assuntos como a amizade, a violência, a grande quantidade de mortes inocentes e também da produção de armas e bombas nucleares. Marquez fala sobre história e nos faz relembrar de fatos passados e autores que já morreram mas deixaram lembrança. Enfim… Eu não vim fazer um discurso nos faz pensar sobre nós mesmos e nos faz lembrar que sim, somos seres horríveis por um lado, mas, podemos ser melhores se quisermos. E isto é belíssimo!

Que tal praticar um pouco a sua beleza?

 

Luciana
Jornalista e editora, mestre em rádio e televisão.

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