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Sixpence None The Richer – The Down Of Grace

Sixpence None the Richer, formada há 16 anos, dispensa apresentações e retrospectivas. Fãs do mundo inteiro, apesar de satisfeitos com os trabalhos solo dos membros da banda, sonhavam com seu retorno, depois de seu final muito lamentado em 2004. Em Novembro de 2007 a banda oficialmente voltou a existência e, sem perder muito tempo, lançou seu novo EP “My Dear Machine”, com 4 canções novas, disponibilizado para download em vários sites pagos e gratuitos.

As especulações em torno do novo perfil da banda não esquentaram, nem se manteriam a mesma linha de som, nem sobre a nova formação, “contanto que continuem juntos por muito tempo”. A verdade é que grande parte dos fãs não se ocupa com o corpo da banda e falar de “Sixpence None the Richer” e da ‘vocalista loirinha’ do clipe de “Kiss me”, para muitos é indiferente.

Além do EP, a banda agendou shows nos EUA e Europa e se manteve ocupada com o já ha muito aguardado, cd natalino, “The Dawn of Grace”. Sixpence já agradava com suas contribuições para projetos especiais, com covers de canções natalinas como “You’re A Mean One, Mr. Grinch” (How the Grinch Stole Christmas), “Christmas time Is Here” (Vince Guaraldi, Peanuts), “Silent Night” (City on a Hill: It’s Christmas Time), “It Came Upon a Midnight Clear” (Maybe This Christmas Too? e A Winter’s Night).

Apesar de ter contribuído com várias músicas em diversos cds diferentes, Sixpence não tinha ainda em seu catálogo, um cd especificamente sazonal (“Wishing for This” da Leigh Nash, não conta como cd do SNTR). Lançar um cd sazonal como o primeiro disco em 4 anos exige audácia. Cds natalinos são uma “alvorada sem graça” de pouca inspiração e sem empolgação, para a grande maioria, considerando-se a distância cultural, ou o grande número de rendições já feitas por vários artistas. “The Dawn of Grace” no entanto, lançado em 14 de Outubro de 2008, com canções tradicionais e 2 canções próprias (“The Last Christmas” e “Christmas for Two”) não se enrubesce mediante esses fatos; 4 anos de espera e um EP muito promissor, só poderiam fazer com que os fãs implorassem pelo lançamento deste cd, como o despertar de um dia após uma noite de vazio e saudade. Estas combinações não exigem, entretanto, que você seja um cristão fundamentalista, nem fã das composições regulares da banda.

Apesar do tema negligenciado, nada mais adequado para um cd natalino, que uma banda de artistas cristãos – correção: artistas cristãos que não negligenciam o tema, cuja arte sobrepuja os números e passa longe do que se conhece sobre músicas tolas de natal. “The Dawn of Grace” supera as comuns folias natalinas, em favor do prazer de ouvir boa música, espiritualidade com embasamento cristão e arte lúgubre dos incontáveis sons gentis de violões, gaitas, violinos (…) usados nas composições, tecidos com a voz delicada, suntuosa e angelical de Leigh, de qualidade fria, serena e etérea, que embalam os ouvidos em um clima escapista. The Dawn of Grace é uma extensão da personalidade da banda, especialmente transmitida por Nash, com textura natalina: graça e doçura consistente, do começo ao fim.

A lista de canções é surpreendente. Apesar dos projetos anteriores, o Sixpence apresentou clássicos que, para muitos, são desconhecidos, mas tanto estes como os mais conhecidos entornam criatividade.

“Angels We Have Heard on High”, escrita originalmente em Francês (“Les Anges dans Nos Campagnes”) e somente traduzida para inglês em 1862, ganha vida na voz de Leigh e abre o cd com o Matt no violão. O quarteto “Love Sponge String” preenche cada verso e ilustra musicalmente a letra.

Matt Slocum é um dos grandes responsáveis pela banda Sixpence None the Richer, além de escrever a maioria das músicas, toca violão, violão cello, piano etc. Antes de formar o SNTR, ele tocava violão na banda Love Coma e atualmente e baixista na banda Astronaut Pushers. Matt ja participou em cds de Julie Miller, Plumb, Wes King, Switchfoot, Hammock, Lost Dogs, The Choir, Dividing the Plunder, Threefold, Brooke Waggoner, Chris Rice entre outros e escreveu “Nervous In the Light of Dawn”, com a Leigh em seu cd solo “Blue on Blue”. “The Last Christmas” foi escrita por Matt e Steve Hindalong, não difere de suas demais letras e nos faz lembrar da Leigh Nash nos primeiros anos da banda. Som e letra envolvem em nostalgia, casando perfeitamente os vocais sólidos e diversificados de Leigh nash, com o violão sombrio de Matt, carrilhão e pandeiro em um único arranjo acústico. O titulo do cd certamente vem desta música.

“When darkness was shattered
The dawn of God’s grace
And the journey’d begun
To the first Easter day”

“O Come, O Come Emmanuel” traz um sentimento triunfante. Difícil falar de Natal, sem evocar um pouco da cultura hebraica. Hino tradicional do século XII, cujo autor e desconhecido, era cantado no estilo antifone (do grego “oposto+voz”), comumente usado em canto gregoriano por coros semi-independentes interagindo, em resposta a um salmo, ou em outro momento de alguma celebração religiosa. A estrutura peculiar espelhada dos salmos hebraicos faz com que sejam provavelmente a origem do estilo, usado nos cultos dos Israelenses anciãos, introduzido posteriormente ao louvor cristão, que e usado até então nas igrejas romanas e é muito comum na tradição musical Anglicana, igrejas ortodoxas gregas e algumas igrejas católicas. Na voz de Leigh Nash e com letra adaptada, não abandona os traços característicos e fala da vinda do Emanuel, termo Hebraico que significa “Deus Conosco”, ecoando outros temas proféticos.

“Rejoice! Rejoice!
Emmanuel shall come to thee, O Israel”

“Silent Night” já deve ter em media uns 200 anos. É  uma música que todo mundo deve conhecer, mas o cd traz esta surpresa, que e a participação do vocalista Dan Haseltine, do Jars of Clay e amigo da banda (prometo não falar muito eheh). Duetos de Leigh Nash e Dan sempre foram um deleite a parte, repito, diferentes dos duetos intencionalmente comoventes no meio cristão! Fiquei muito feliz com esta contribuição própria do Dan em “Silent Night”, pois ela já foi regravada milhões de vezes e acabou banalizada. Dan escreveu a letra que ele canta, alternando com os versos clássicos cantados por Leigh.

“Além disso, Dan Haseltine do grupo Jars of Clay deve ser mencionado como um destaque. Sua contribuição com a letra para “Silent Night”, cantando em resposta a letra original, deu a esta música, uma nova vida (…)” Leigh and Matt.

Com a participação de Dan fazendo um “olho no olho” com Leigh, a banda salvou esta música de ser um projeto falido. Instrumentalmente, usaram aqui os triviais, além de sintetizadores, cordas de aço e percussão.

“Riu, Riu, Riu”, de meados do século XVI, é um hino antigo em espanhol que fala do cuidado de Deus com Maria, que haveria de conceber o filho de Deus, para redenção dos homens. O quarteto volta nesta faixa e na próxima.

“Riu, riu chiu, la guarda ribera”

“Carol of the Bells” parece continuar na mesma veia de “Riu, Riu, Riu”, cheia de sinos, lembra trilhas de filmes natalinos em cenas de aventuras, talvez a mais preenchida com sons característicos e a menos interessante do cd.

“Christmas Island” apesar de excessivamente sentimental e florida, este é o momento “retro-Brodway cruzeiro” do cd. Tropicaliedade não tem muito a ver com Natal, mas deu certo nesta faixa, que encanta com a percussão embriagada, gaita country, conchas, num conjunto sensacional.

“River” é provavelmente uma das músicas relacionadas ao natal mais depressiva que existe. O cd solo de natal “Wishing for this” da Leigh Nash, de 2006, teve “Hard Candy Christmas” como uma das faixas mais depressivas do cd (que eu amo), de Dolly Parton. Neste cd, “River” faz jus a versão original de cortar os pulsos de Joni Mitchell, considerada pela revista “Rolling Stones Magazine”, como uma das melhores compositoras que já existiu. A Leigh tem este estilo estrambótico de emocionar em músicas mais suaves, o que não é simples, mas ela faz com empenho por igual na musica inteira, simplesmente deixando a voz sair. O monólogo soa frustrante com o que acontece em volta e um rio seria um escape perfeito. A confissão de auto-honestidade conduz a um dos momentos mais tocantes da música:

“Sou muito difícil de lidar
Sou egoísta e estou triste
Fui muito longe e perdi o maior amor
que eu já tive”

Apesar de não soar como uma música de natal, esta é uma das mais lindas do cd, com uma atmosfera triste, brilhante, utilizando entre outros, sintetizadores, sinos, xilofone de metal etc. O tempero nesta música e um pedacinho de “Jingle Bells”.

“Christmas for Two” foi escrita pela Leigh Nash e Kate York, enfeitada com violões, carrilhão, assobios presenteados por Kate York, barulhinhos aleatórios de sinos e tema romântico, sobre nada mais que envolve o natal importar tanto quanto passar este tempo ao lado de quem se quer bem.

“Some Children See Him” fecha o cd de forma pensativa, sobre como cada criança, em cada lugar diferente no mundo, tem uma idéia diferente do rosto de Deus. Música obscura dos anos 50, escrita por Alfred Burt. Um violão ambiente, um violão Cello, momentos em que Leigh parece cantar quase que sem acompanhamento nenhum … compasso uniforme nos convida a deixarmos de lado o que não importa e oferecermos nossos corações como oferta a Deus.

“O lay aside each earthly thing
and with thy heart as offering,
come worship now the infant King.
‘Tis love that’s born tonight!”

Quero falar da capa antes de encerrar. não gostei da capa ser a mesma capa do cd “Divine Discontent”, lançado no Japão. Recortaram o Matt e a Leigh e colocaram em um fundo natalino. Os recortes não foram bem feitos, além da foto ter perdido muita qualidade, nota-se no Matt. Cds natalinos precisam ter uma boa capa, que comuniquem a qualidade do conteúdo que eles trazem, esta capa alcança este objetivo, pois e inegável que e a Leigh Nash na capa, mas o Matt nem tanto. A idéia da faixa vermelha é o que salva, na parte de trás do encarte e na contra-capa do cd, o resultado e bem melhor. não tem letras, são apenas 3 páginas dobradas, interior todo em vermelho, com informações técnicas sobre cada musica escritas em letras brancas bem pequenas. não tem agradecimentos, nem outros detalhes, o encarte parece ter sido feito as pressas.

Finalizando, “The Dawn of Grace” não e mais um cd de Natal, nem mais um presente qualquer de natal, ele soma pontos para um natal adorável, apesar de melancólico (eu gosto disso). E mais uma demonstração do talento do Sixpence None the Richer, cujos trabalhos são sempre muito notáveis.

Por Juca de Barro

14 thoughts on “Sixpence None The Richer – The Down Of Grace

  1. acho que o Six deveria lançar CD comemorativo de todas as datas:natal, pascoa, dia das maes, dos pais, dos namorados…e por ai vai hsuahsuahsuahsuahsu

    O destaque nesse CD, na minha opiniao, vai pra Silent Night, com o Dan. Amei, simplesmente linda!^^

  2. Olah!

    Confesso que sempre apreciei muito o som da banda, mas nunca fui de acompanhar sua carreria. A primeira musica que ouvi foi “Kiss me” no seriado Dawson’s Creek. Espero que gravem para que possamos viajar em suas letras. Vc descreveu tanto cd de natal que acabei ficando curioso para escutar. E olha que nao sou de cancoes de natal. MAs acho que vale a pena pela qualidade da banda.
    Abrcs
    Trujillo

  3. Gostei mundo dos comentários sobre cada música – muito detalhadas e bem explicadas – os detalhes e mensagens que cada música transmite realmente são muito agradaveis e dão conforto com esse estilo diferente que a banda adotou para o cd!!!

    parabéns pelo blog – e parabéns Leigh e Matt – uma dupla que faz uma junção perfeita!!
    Abraços e FELIZ NAVIDAD a todos!!

  4. Pingback: Beco das palavras

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